Conversando com um colega de trabalho, surgiu o assunto do imbróglio que envolveu a suspensão do show do Ultraje a Rigor no festival da Rádio Kiss FM, que celebraria o Dia Mundial do Rock nesta quinta-feira (13). O evento foi cancelado por completo nesta segunda-feira (10).
A partir desta conversa, tive o seguinte questionamento: uma obra inteira, pode ser prejudicada pelas opiniões pessoais, atos e ideais do artista? Existem inúmeros casos no mundo da música e fora dele de artistas que decepcionam seus fãs com suas opiniões e ações na vida particular.
Contextualizando
No último domingo (9), ao saber do cancelamento do show do Ultraje a Rigor, o radialista Marco Antônio Abreu, conhecido como Titio, comemorou a decisão da emissora através da rede social X (antigo Twitter):
"Graças a Deus, a Kiss repensou e decidiu cancelar o show de aniversário da rádio com a m*** ultrajante do Ultraje a Rigor. Uma rádio tão importante como a nossa merece uma festa de respeito e não um grupo de fascistas falidos”, escreveu , em uma postagem depois apagada".
A banda retrucou: “Somos atacados por Marco Antônio, cancelam o show que seria feito no Dia Mundial do Rock (data importantíssima) faltando 36 dias para o evento e é isso que temos como resposta?”.
É importante separar?
O Ultraje a Rigor é uma das maiores bandas de sua geração, não só pelos hits, mas também por serem precursores dos solos de guitarra no rock brasileiro e por tantas letras inteligentes e relevantes que fizeram.
É de conhecimento geral que Roger Moreira desagrada a maioria de seus fãs com suas opiniões políticas (inclusive o autor deste texto), mas, por mais que seja difícil, é importante deixar de fora a obra do Ultraje a Rigor desta conversa.
A banda influenciou a maioria dos grandes nomes nacionais que compõem o rock nacional de hoje e tem uma excelente trinca de álbuns na década de 80, sendo o único grupo com sucesso comercial da época que se arriscou a lançar um disco com metade de suas canções sendo instrumentais.
Ações como a de Titio, da Kiss FM, mostram que não basta o conhecimento raso sobre a opinião pessoal do vocalista da banda, mas a necessidade de um trabalho jornalístico e estudo sobre a obra musical deste grupo, antes de qualquer declaração equivocada.
E não estou falando de opiniões pessoais sobre o gostar ou não de determinada banda. Essas sim são válidas, até porque, podemos gostar ou não de quem quisermos, não é mesmo? Mas quando se trata de um comunicador, entender posição de relevância que o grupo está, é o mínimo. Até porque, a banda tem outros três integrantes, nem todos com as mesmas opiniões.
O Ultraje não faz shows em grande escala por escolha do próprio Roger, diferente do comentário feito pelo radialista, categorizando a banda como falida, principalmente pelo fato de terem a agenda com poucas datas.
Essa reflexão serve também para os que confundem a obra do Detonautas com as opiniões de Tico Santa Cruz, aos que misturam a obra dos Raimundos com as opiniões de Digão e também a todos os outros casos que envolvem artistas com opiniões controversas e suas obras.
Claro que há exceções, como no caso de Eric Clapton, que chegou até a fazer música com tema antivacina e em todos os outros que envolvem ações criminais completamente repugnantes.
Eu entendo que seja difícil para a maioria das pessoas, mas a obra deve ser separada da vida pessoal do artista, desde que o artista não coloque suas opiniões controversas em uma nova obra. Aí a conversa é outra.