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Psica 2025: como um festival independente do Pará virou referência em identidade, curadoria e reinvenção de mercado?

  • Foto do escritor: Guilherme Moro
    Guilherme Moro
  • há 34 minutos
  • 4 min de leitura

O Psica 2025, festival que será realizado entre os dias 12 e 14 de dezembro, no estádio Mangueirão, em Belém, é um dos mais relevantes do país quando o assunto é identidade musical, representatividade regional e construção de cena. Em sua edição deste ano, o evento reforça a latinidade como eixo estético e político, trazendo nomes como Marina Sena, Rossy War, Wanderley Andrade, BK' com participação de Evinha e a Banda Voo Livre.


Mas por trás das atrações, o festival sustenta uma filosofia de curadoria que o projeta para muito além do calendário de shows. O Psica se vê como um movimento cultural capaz de reposicionar o Norte dentro da narrativa musical brasileira.


Para Gerson e Jeft Dias, organizadores e criadores do evento, a curadoria não se baseia apenas em tendências ou números de streaming. Ela é moldada pela experiência de quem vive a Amazônia e entende seus cruzamentos estéticos e históricos.


“Quando falamos de curadoria, não estamos falando apenas de selecionar nomes que façam sentido comercialmente. Estamos falando de apresentar um Brasil que raramente é mostrado. Nós viemos da periferia de Belém, crescemos ouvindo tecnobrega de aparelhagem, carimbó na esquina, rap da cidade e música latina que chegava por barcos, rádios comunitárias e camelôs. Isso forma quem somos. Então, quando montamos o line-up, não estamos pensando em encaixar o Norte dentro de uma lógica do Sudeste; estamos propondo que o país olhe o Norte como uma peça central. E afirmamos, sem nenhum exagero: daqui a gente enxerga melhor, porque incluímos no jogo a peça que sempre faltou: o Norte”, afirmou Jeft.
Público na edição do Psica 2024 | Foto: @desoulz
Público na edição do Psica 2024 | Foto: @desoulz

Ao unir gêneros como lambada, guitarrada, tecnobrega e pop alternativo, o Psica abre espaço para a cultura amazônica. Tudo é pensando nos mínimos detalhes. Por exemplo, presença de Rossy War, lenda peruana da tecnocumbia, tem o intuito de fortalecer os laços da ponte estabelecida entre a Amazônia brasileira e países como Peru, Bolívia, Colômbia e Suriname.


“Tem gente que ainda fala como se lambada, calypso e tecno fossem coisas isoladas, mas nossa formação é intrinsicamente latina. A Amazônia é um território de passagem, troca, herança e hibridização. O Psica não tenta inventar isso; a gente só escancara. Quando trazemos alguém como Rossy War, estamos lembrando que nossa música não começou em Brasília ou São Paulo. Ela é fruto de um diálogo profundo com o Caribe, com o Peru, com o Norte global e com a diáspora africana. Esse é o Brasil que queremos mostrar", concluiu Gerson.

Fundadores do Festival Psica | Foto: Divulgação
Fundadores do Festival Psica | Foto: Divulgação

Para o Norte é mais caro...


Apesar do reconhecimento crescente, o festival enfrenta uma realidade que restringe artistas e produtores há décadas: o chamado custo amazônico. Belém é uma praça menor para apresentações, com limitações logísticas e passagens aéreas que pesam no orçamento. Os organizadores explicam que esses fatores influenciam diretamente o line-up.


“Onde mais você paga três, quatro, cinco mil reais por uma passagem? Onde mais um artista leva 20 horas para chegar? Onde mais um produtor precisa ajustar cachês, equipes e equipamentos para que a conta feche? O custo amazônico é uma realidade e afeta diretamente a construção do Psica. Mesmo assim, a gente decidiu não crescer além do que a cidade comporta. Somos de uma praça pequena, o que significa que certos nomes cobram valores impossíveis. Mas o Psica virou referência, e muitos artistas querem tocar aqui mesmo ajustando equipes, reduzindo técnicos ou adaptando a estrutura. Isso diz muito sobre o que o festival representa hoje”.

Um dos pontos que mais distinguem o Psica de outros festivais é sua política de pagar cachês justos aos artistas locais e iniciantes. A decisão de multiplicar por oito o piso de pagamento foi tomada como gesto político.


“Por muito tempo, vimos bandas incríveis daqui receberem cachês que não pagavam nem o transporte. Era injusto, era humilhante e era estrutural. Nós decidimos que não faríamos parte desse ciclo. Multiplicamos por oito o valor mínimo para iniciantes e mantemos conversas transparentes com cada artista local, até porque sabemos o quanto é difícil viver de música no Norte. Não estamos só no discurso: estamos transformando condições reais”.

Encontro de gerações


Um dos momentos mais esperados da edição deste ano reúne BK e Evinha, em um encontro pensado pelos curadores para continuar a tradição do festival de costurar épocas e linguagens.


A volta de Marina Sena ao Psica, agora com o show de Coisas Naturais, simboliza a atualização da estética latina dentro do pop brasileiro. Os curadores ressaltam que ela representa o encontro entre o pop contemporâneo e a musicalidade híbrida que sempre marcou o Norte.


“O Psica não é só um evento. É uma forma de pensar cultura. Quando a gente se compromete com identidade, com representatividade e com economia da música, a gente está dizendo que nosso papel vai além do palco. O Psica é um movimento e é isso que nos faz crescer ano após ano”.
Evinha será uma das atrações do evento em 2025 | Foto: Divulgação
Evinha será uma das atrações do evento em 2025 | Foto: Divulgação

Veja o line-up completo:


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