Paulo Ricardo revisita quatro décadas de carreira em show nostálgico em Ribeirão Preto
- Guilherme Moro
- 8 de jul.
- 3 min de leitura
O ano era 1985 e o Brasil assistia eufórico a queda da ditadura militar e o surgimento da Nova República. Neste mesmo ano, chegava às lojas o primeiro álbum do RPM, "Revoluções Por Minuto", o primeiro registro fonográfico de Paulo Ricardo, na época vocalista, baixista e compositor do grupo.
É este o marco comemorado pelo músico em sua nova turnê, "KL - 40 Anos", que celebra as quatro décadas de carreira artística. O novo show chegou a Ribeirão Preto no último sábado (5), no palco do Multiplan Hall, no Ribeirão Shopping.

Diante de um público morno, Paulo se apresentou por aproximadamente uma hora e meia e passeou por todas as fases de sua carreira.
Para abrir o show, ele escolheu o início de tudo: o remix de "Louras Geladas", considerado o primeiro do Brasil e a catapulta que levou o RPM às rádios pela primeira vez, ainda em 1985. Com sobretudo branco e ombreiras, assim como no último show da turnê Rádio Pirata em 1986, ele seguiu o repertório com "Vida Real", tema do BBB.
Em seguida, veio "Partners", música do álbum "Quatro Coiotes", de 1988, uma grata surpresa no set, que foi emendado por "Pérola", single do esquecido "Paulo Ricardo & RPM", de 1993.
A plateia pouco interagiu nas últimas três faixas citadas e só se empolgou quando o ex-RPM cantou "Será", da Legião Urbana. Na sequência, "Juvenílla", lado B do grupo e uma inusitada, mas boa releitura de "Chega de Saudade", de João Gilberto.
Outra grande reação da plateia veio com “Dois”, um dos hits mais marcantes da carreira solo de Paulo Ricardo, que finalmente despertou aplausos espontâneos e alguns gritos nostálgicos. Em seguida, ele emendou “Naja”, instrumental explosivo que também marcou época com o RPM e arrancou sorrisos dos fãs mais atentos aos detalhes técnicos da banda.
Apesar da competência da banda de apoio e da entrega vocal de Paulo, o bloco seguinte, dedicado a faixas menos conhecidas da trajetória solo que, novamente, passaram quase despercebidas pelo público.
A retomada do entusiasmo veio com um momento criativo e ousado: a fusão entre “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, e “London London”, que é de Caetano Veloso mas já se tornou uma canção do RPM. A mistura inusitada foi dedicada ao pai de Paulo, que faleceu recentemente e sempre pediu que o filho cantasse a canção.
Logo depois, “Flores Astrais”, do RPM, levou o público direto de volta aos anos 80. A canção foi embalada por efeitos visuais que remetiam à lendária turnê “Rádio Pirata ao Vivo”, com direito a raio laser e cenografia
transportaram os fãs à estética do show de 1986. De arrepiar.
Paulo ainda arriscou covers inesperados. “Crazy Little Thing Called Love”, do Queen, ganhou versão suingada e bem-humorada, enquanto “Like a Rolling Stone”, de Bob Dylan, surgiu como homenagem à influência do folk e do protesto na formação do artista.
“Tudo Por Nada”, apareceu em versão country, com arranjos acústicos, mudando completamente a sonoridade original do clássico. A emoção tomou conta do Multiplan Hall quando “A Cruz e a Espada” começou a ecoar. Em um dos momentos mais impactantes do show, Renato Russo surgiu no telão em projeção gerada por inteligência artificial.
No encerramento, Paulo Ricardo apostou no seguro, e acertou. Virou festa. Primeiro veio “Revoluções por Minuto”, que começou exatamente como no icônico disco “Rádio Pirata ao Vivo”, com as vozes clamando por revolução. Em seguida, vieram “Rádio Pirata”, “Alvorada Voraz” e “Olhar 43”, transformando o Multiplan Hall em uma verdadeira festa ploc com direito a braços erguidos a cadeiras deixadas de lado, refrões em coro e a sensação de que, apesar das décadas passadas, os hinos do RPM ainda vivem na memória afetiva de uma geração.
A turnê "KL - 40 Anos" consegue se equilibrar entre memória e reinvenção. Paulo Ricardo sabe como montar um bom repertório e consegue agradar todos os diversos tipo de público que o acompanha: do mais fanático pelo RPM, à senhora que ama sua fase romântica dos anos 1990.