Em noite de gala, Chitãozinho & Xororó recebem homenagem no Prêmio da Músca Brasileira
- Guilherme Moro
- 4 de jun.
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de jun.
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro é talvez um dos símbolos máximos da música erudita e das artes clássicas no Brasil. É o tipo de lugar que, por décadas, pareceu reservado apenas aos gêneros que a crítica tradicional classificava como “superiores”.
Na noite desta quarta-feira, no entanto, esse espaço foi tomado por outra força musical, uma que brota da terra, da viola, das histórias de amor e saudade contadas por vozes que vieram do interior do Brasil. A 32ª edição do Prêmio BTG Pactual da Música Brasileira homenageou Chitãozinho & Xororó, e essa escolha foi muito mais do que simbólica. Foi necessária.
Qual a diferença entre a música caipira e a música sertaneja? A diferença é Chitãozinho & Xororó. A frase dita por Fabrício Boliveira, apresentador da cerimônia ao lado de Nanda Costa, não é exagerada. Eles não inventaram a música sertaneja, mas foram os primeiros a olhar para ela com ambição pop, com visão de espetáculo. A chave virou após assistirem ao show da banda Yes no primeiro Rock in Rio, em 1985. Ao verem aquele palco monumental, com técnica refinada e produção de altíssimo nível, os irmãos perceberam que o sertanejo podia e devia alcançar aquele mesmo grau de respeito e sofisticação. Por que não?

A homenagem no prêmio, dirigida com esmero por José Maurício Machline e com roteiro de Zélia Duncan, soube valorizar justamente essa capacidade de fusão que marca a trajetória da dupla. Foram apresentadas releituras sofisticadas de clássicos dos irmãos, sem perder o sabor original.
Hamilton de Holanda, Lenine, Vanessa da Mata, Sandy, João Gomes e outros artistas trouxeram novos tons a essas canções, mostrando como elas ainda ressoam, com frescor, nos mais diversos estilos. Vá Para o Inferno Com Seu Amor virou teatro na interpretação de Vanessa e Fitti. João Gomes e Mayck & Lyan fizeram uma ponte entre o sertanejo universitário e o forró, conectando gerações e territórios musicais.
LEIA MAIS: Lauana Prado, Hermeto Pascoal, Liniker, Emicida e mais: veja os vencedores do Prêmio BTG Pactual da Música Brasileira 2025
Outro destaque foi a parceria entre Agnes Nunes e Fábio Jr. em Fogão de Lenha, que juntou a suavidade da jovem cantora com a experiência do veterano, numa apresentação carregada de emoção e respeito mútuo.
João Bosco, Sandy e Mestrinho uniram suas vozes para uma apresentação que mesclou o violão com acordes quebrados, a sanfona bem encaixada e a voz suave de Sandy em uma interpretação inédita de No Rancho Fundo.
Já Lauana Prado e Lenine trouxeram um encontro de força e delicadeza, entre o pop sertanejo e a MPB, em uma apresentação de Nuvem de Lágrimas que ressaltou a versatilidade e o talento de ambos.
Paula Fernandes e Tiago Iorc representaram a nova safra da música brasileira com um toque de romantismo e refinamento em Meu Disfarce, enquanto Os Garotin e Junior trouxeram um ritmo animado e festivo para o hit Sinônimos.
Por fim, a presença especial de Chitãozinho & Xororó junto com Enrico e Allison Lima encerrou a noite com chave de ouro.

O mérito da dupla não está apenas na longevidade ou no número de discos vendidos. Está na ousadia artística de unir mundos. De entender que a música sertaneja não precisava ser engessada, que ela podia dialogar com a MPB, com o pop, com o country americano e até com o rock. Poucos artistas no Brasil conseguiram fazer essas pontes com tanta naturalidade e, mais do que isso, com aceitação popular e crítica, principalmente em relação ao sertanejo.
Por isso, ver a dupla recebendo essa homenagem num palco histórico, diante de um público diverso e sob o aplauso de tantos colegas de profissão é reconhecer a arte brasileira.
O sertanejo está, hoje, nos grandes festivais, nas rádios, nas redes, nas playlists do país todo. Mas foi Chitãozinho & Xororó que abriram essa porteira. E isso, definitivamente, merece ser celebrado.