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  • Foto do escritorGuilherme Moro

Entrevista com Khalil, o cantor que tem versos de Caetano e identidade própria

O sorocabano lançou no final de outubro o seu álbum de estreia "De Cara Pro Vento". Com 25 anos, o artista tem versos que lembram os de Caetano e uma voz única. Conheça esse que é uma das grandes apostas da música brasileira para os próximos anos.


Foto: (Jeferson Lucas)


Blog Música Boa

Khalil, o maior impacto de suas canções é a sinceridade que cada uma passa e, principalmente, a maturidade. Como você desenvolveu esse trabalho de composição e porque você acha que suas letras se transparecem tão maduras, apesar de seu pouco tempo de carreira?


Khalil

Tudo que posso dizer sobre isso é que não tenho a inspiração, ela me tem. Não consigo decidir escrever uma canção. Muitas vezes minhas letras chegam inteiras, de supetão, me pegam desprevenido e tenho que correr para encontrar uma forma de registrá-las. Já perdi muitas por não ter um violão, um caderno ou um gravador por perto. Sem isso elas acabam escorrendo pelos dedos.


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Você toca violão desde os 13 anos de idade e tem ancestralidade vinda do Nordeste. Quais são os principais artistas nordestinos que você se inspira? Qual sua relação com esse estado, musicalmente falando?


Khalil

Se falamos do Nordeste na minha música, tenho que falar da Tropicália. Sem dúvidas é a influência mais notável. Tenho também enorme devoção pela arte que a inspirou e pelas que vieram depois. Ultimamente estou mergulhado no Elomar, Xangai, Vital Farias e Geraldo Azevedo. Já sinto suas influências chegando em meu violão e voz. Não há ritmo nordestino que não me faça querer dançar. Essa pergunta me dá vontade de escrever duzentas linhas.


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No ano passado, o produtor Sérgio Guerra lhe convidou para ir até Portugal gravar o seu primeiro álbum de estúdio. De que maneira se deu esse convite e como foram esses dias no Sudoeste da Europa?


Khalil

Guerra me conheceu através de um vídeo que gravei interpretando ''Quem é Deus?''. Me contatou, conversamos um bocado e surgiu a proposta de gravar em Lisboa, sob produção de Alê Siqueira, o disco ''De Cara pro Vento''. É claro que aceitei. Tive pouco tempo para viabilizar a viagem, confesso que cheguei ansioso, mas não tive como não relaxar. Assim que fui recebido com tamanha empatia e cordialidade por Sergio e sua filha, Jacline, que tocou ao piano sua maravilhosa composição ''Set me Free'’. Essa lembrança sempre vai me emocionar. No dia seguinte Alê chegou. O processo de gravação de violão e voz foi muito orgânico, sem metrônomo. Acredito que isso tornou a coisa mais fluída e assegurou a relação simbiótica que tenho entre o cantar e o tocar. Terminamos tudo em três dias, passei mais quatro conhecendo Lisboa, cantei e ouvi muita música boa na Rua das Pretas de Pierre Aderne, conheci José Eduardo Agualusa, que escreveu de forma muito sensível sobre meu trabalho em sua coluna no "O Globo". Foram dias incríveis.


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Como foram elaborados os arranjos do álbum? Você foi participativo na criação?


Khalil

Cada arranjo que Alê me apresentava era uma aula de música e cultura. Fui participativo, mas nesse sentido a criatividade e o talento de Siqueira foram o fator determinante. Quero enfatizar ''A Revolução do Bichos'' pela maneira como a voz de Kapara, do povo Himba, chegou de Namíbia para nós: Alê Siqueira estava trabalhando com ele em outro projeto, mas recebeu seu canto enquanto finalizava essa faixa. Além de ter caído como uma luva em ritmo e melodia, a voz de Kapara fala de respeito aos animais e à natureza. Isso soou como um aceno divino para mim.


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Você mesmo disse que não faz a menor ideia de quem seria, se não fosse a música. Qual a importância do momento que você vive hoje em sua vida, no qual você está divulgando o seu álbum e com uma perspectiva alta de crescimento na carreira?


Khalil

Quando digo isso, falo literalmente. Minhas maiores amizades vieram através da arte. Tudo de mais significativo na minha vida ocorreu por essa razão. É difícil dizer como me sinto, ainda estou digerindo essa novidade. Estou muito feliz e quero ocupar esse espaço de forma responsável, com gratidão por tudo e todas as pessoas que me fortaleceram nessa caminhada.


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O álbum “De Cara Pro Vento” é uma obra completa. Muitos artistas optam por lançar EP’s e Singles, ao invés de álbuns cheios. Qual sua opinião sobre isso? Acha que cada vez menos teremos álbuns conceituais com início, meio e fim?


Khalil

Acho legal essa coisa de CD, da razão pela qual cada faixa é escolhida para cada espaço, não sei se posso arriscar um palpite sobre o futuro em relação a isso, mas espero sempre poder imergir numa história contada por um disco.


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Você já se apresentou em diversos lugares diferentes. Consegue se lembrar do maior perrengue que você passou em algum show?


Khalil

Poxa, são vários! Já toquei muito nos metrôs, ônibus e ruas. Ocupar um espaço público como artista é sempre uma caixinha de surpresas. Coleciono histórias lindas, engraçadas, emocionantes e também perrengues dessa época, mas quero destacar aqui um episódio no qual eu e Cacau Apolonio (uma das amizades que deram voz para a faixa ''Botas Imundas''), pessoa com a qual me descobri artista, fiz e farei muitas parcerias musicais, fomos tocar num festival e perdemos nosso material. Por sorte tínhamos muito bambu na região. Improvisamos pedestais com eles, mas os cabos que arranjamos eram curtos e tocamos quase atrás do palco, mas com muita alegria.


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Como está a recepção da mídia em relação ao álbum de estreia?


Khalil

Muito boa! Thales de Menezes escreveu o que achou do CD na Folha de São Paulo e seu texto não poderia ter me tocado mais profundamente. Em Sorocaba, minha cidade natal, contei com Felipe Shikama para minha divulgação no Cruzeiro do Sul. Estou muito presente em Mogi das Cruzes. Sou apaixonado pela cena artística de lá. Me recebem com muito carinho desde 2018. Estou conversando com mídias mogianas também.


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Quais os rumos que você pretende seguir com sua carreira musical?


Khalil

Apenas me ponho disponível e disposto às boas possibilidades. Tentar as prever é coisa que abandonei desde a proposta de meu amigo Sergio Guerra. Tenho repertório para mais alguns álbuns e sigo compondo. Quero levar minha arte para onde ela me levar.


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Há algumas críticas políticas no álbum. Atualmente, acha que essa abordagem com um cunho mais politizado falta para alguns artistas?


Khalil

Não me sinto no direito de apontar o que falta na arte de alguém. Existem barreiras de comunicação. Não temos os mesmos acessos à informação. O que posso dizer é que a partir do momento em que nós, artistas, compreendemos nosso lugar estrutural temos um compromisso ético com a luta pela liberdade e hoje, no contexto brasileiro, sei o que significa lutar por liberdade.

 

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