top of page

Rock não é neutro e o Ira! nunca foi

  • Foto do escritor: Guilherme Moro
    Guilherme Moro
  • 10 de abr.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 11 de abr.

O Ira! teve quatro shows cancelados no Sul, uma semana após Nasi se manifestar contra a anistia política dos presos dos atos anti-democráticos do dia 8 de janeiro de 2024, em show na cidade de Contagem (MG). Caxias do Sul, Jaraguá do Sul, Blumenau e Pelotas foram as cidades em que a produtora 3LM Entretenimento cancelou as apresentações.


Para além do contexto do show business, o questionamento é, o que as pessoas entendiam das músicas do grupo? Ora, o Ira! sempre teve lado. Nasi foi por muitos anos filiado à partidos socialistas e nunca escondeu. Faz parte do DNA da banda. Pensavam que Núcleo Base tratava sobre o que?



Presenciei em 2022, durante um show da banda, um momento parecido com o que aconteceu em Contagem. Em dado momento, Nasi levantou a mão fazendo o "sinal do L", mostrando seu apoio ao pleito de Lula, em um período pré-eleitoral turbulento. O gesto teve reação mista da plateia. Parte vaiou, outra aplaudiu. Novamente, já ao término da apresentação, o vocalista refez o gesto afirmando seu posicionamento.


A verdade é que a falta de interpretação das letras e do contexto onde o Ira! sempre existiu faz com que essas pessoas se percam nos próprios gostos. É como se escutassem só o som, sem nunca prestarem atenção no que está sendo dito. Isso cria situações bizarras como essa: fãs que se dizem surpreendidos com o posicionamento político de uma banda que sempre teve lado, sempre teve discurso, sempre teve conteúdo. Não é só o que foi pasteurizado no ótimo "Acústico MTV" de 2004. O Ira! vai além de Eu Quero Sempre Mais, Dias de Luta e Envelheço na Cidade.


O Ira! é o questionamento de "É Assim Que Me Querem", a provocação de "O Candidato", a agressividade de "Não Basta o Perdão" e a leveza de "15 Anos". É uma banda de verdade. Original, controversa e com identidade.


Como se os cancelamentos não fossem capciosos o suficiente, a produtora solta uma nota das mais tendenciosas, dizendo que "artistas deveriam subir ao palco apenas para apresentar suas músicas e talentos". Acredito que deveriam mudar de ramo. Quem sabe investir em inteligência artificial para criar robôs?


Artistas precisam ser livres. Este não é uma opinião centralizadora de ideais partidários, até porque já defendi o Ultraje a Rigor em situação parecida. Mas o caso do Ira! beira o impensável. Boicote com nome, sobrenome e manada.


No fim das contas, não se trata de concordar ou discordar do que foi dito no palco. Trata-se de entender que a arte é, por natureza, política — porque reflete o tempo, o espaço e o corpo de quem a produz. Querer artistas neutros é querer arte sem alma. E isso, definitivamente, não é rock'n'roll. Aliás, essa gente gosta mesmo de rock?

Saiba o que rola no mundo da música!

Você está inscrito!

  • Branca Ícone Spotify
  • Ícone do Facebook Branco
  • Ícone do Instagram Branco
logo_escrito.png

© 2024

bottom of page