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Resenha: Sua Alegria Foi Cancelada - Fresno

  • Foto do escritor: Guilherme Moro
    Guilherme Moro
  • 10 de jul. de 2020
  • 6 min de leitura

Por: Guilherme Moro


“Sua Alegria Foi Cancelada” é o oitavo álbum de estúdio da banda gaúcha Fresno. Lançado em cinco de julho de 2019, ele dividiu opiniões de fãs pela sua sonoridade com mais elementos vindos da música eletrônica. Esse disco finda uma sonoridade orquestral e conceitual muito utilizada pela Fresno do álbum “Infinito” (2012) ao “A Sinfonia de Tudo Que Há” (2016). O desafio era grande, pois a banda vinha em uma crescente de público muito forte, após todo aquele sucesso mainstream do qual fez parte entre o fim da década de 2000 e o meio de 2012. Esses dois álbuns, ao lado do EP “Eu Sou A Maré Viva”, ganharam um prestígio muito grande pela mídia, que finalmente reconheceu a qualidade musical dos rapazes e não só aquele sucesso adolescente dos tempos em que eram empresariados pelo produtor Rick Bonadio.


No ano de 2018, nasceu o embrião do que se tornaria o álbum “Sua Alegria Foi Cancelada”: o single “Natureza Caos”. Ele veio na contramão de tudo que a banda havia realizado até aquele momento, com uma sonoridade onde predominavam sintetizadores e elementos eletrônicos, mas sem deixar as guitarras elétricas de lado. Esse single acendeu um sinal verde na cabeça dos fãs do que estaria por vir.


Em ”Sua Alegria Foi Cancelada”, a Fresno volta a abordar temas melancólicos em suas canções, assim como no início da carreira, principalmente no álbum “Ciano” (2006), mas de uma forma mais madura e adulta. Nos últimos lançamentos da banda, as temáticas eram de superação e esperança porém essas mensagens são completamente descartadas nesse disco que fala sobre sofrimento, incapacidade e muitas vezes de solidão. As letras da Fresno deixavam sempre coisas subentendidas, nunca mensagens diretas, fato esse, que teve grandes mudanças nesse trabalho, onde a banda pouco romantiza as letras e passa a mensagem de maneira rápida e consequentemente mais pesada.


O disco é produzido pelo vocalista e guitarrista Lucas Silveira, que cada vez mais ganha reconhecimento como produtor, dirigindo artistas consagrados como Capital Inicial e RPM.

Produzido no Dark Matter Studio (Estúdio de Lucas Silveira), ele foi lançado de maneira independente, porém distribuído pelo selo BMG. Os Lyric Video feitos para divulgar o álbum foram todos gravados verticalmente, mostrando os rostos de integrantes da banda e de outras pessoas olhando fixamente para o espectador.


A recepção da crítica foi muito positiva. Há tempos a Fresno não dava as caras regularmente em matérias sobre música em veículos de comunicação importantes. De acordo com Lucas Silveira, “Esse disco seria uma investigação do que é a tristeza em 2019”. Fugindo completamente das características da banda, esse álbum tem um cunho politico muito forte, que pode ser percebido nas canções “We’ll Fight Together” “e Convicção”.


“Sua Alegria Foi Cancelada” veio para quebrar barreiras, destruir padrões e mostrar que todas as presas unidas matam o predador.



Faixa a Faixa


O Arrocha Mais Triste do Mundo

O que era uma introdução de 40 segundos transformou-se em uma música inteira. Guerra (Baterista da Fresno) quando ouviu a até então introdução do disco, logo imaginou  um groove de arrocha em meio aos tristes versos “O medo se apresenta de tal maneira e logo toma conta da casa inteira”. A partir desse estalo do baterista, essa música “nasceu”. A voz baixa de Lucas e uma guitarra fazendo um riff com muito reverb dão a música um ambiente triste. Os versos  “Que eu me senti um merda” e “Que eu engoli a seco filha da puta” a princípio assustam quem conhece a fundo o repertório e a discografia da banda, pois nunca antes uma letra de Fresno teve uma mensagem tão crua e direta. A letra praticamente prepara o ouvinte para o caos que está por vir.


We’ll Fight Together

Praticamente emendada com “O Arrocha Mais Triste do Mundo”, essa canção traz o riff de guitarra mais marcante do álbum. A letra é facilmente associada com o momento politico que o Brasil atravessava em 2019 e é um convite para todos lutarem juntos contra o modo em que as coisas são conduzidas e contra alguns governantes. Uma “pedrada” do início ao fim, essa música mostra a evolução de Lucas como letrista pois ele entra em um assunto completamente fora de sua zona de conforto como compositor.


Isso Não é Um Teste

Uma canção completamente dominada pelos sintetizadores, mostrando essa nova sonoridade da banda onde cada vez mais o tecladista Mario Camelo ganha espaço em arranjos. A bateria eletrônica no início da canção é algo parecido com uma programação, o que dá um ar ainda mais original à canção.


Natureza Caos

Lançada como single, em 2018, essa canção por muito tempo deu nome ao disco pois é o embrião do mesmo, segundo os integrantes. Quando a canção foi lançada, a banda vinha de um bom momento com altas expectativas para um novo álbum de inéditas. Para o público foi um choque. Uma sonoridade ousada e diferente de qualquer canção gravada pela banda, levou alguns fãs a loucura e decepcionou outros. Fato é que a canção deu nome a uma tour e a um disco ao vivo com direto a edição em VHS fita cassete de vídeo). Possui uma sonoridade parecida com “Isso não é um teste”, porém mais pesada devido a parede de guitarra que de maneira crescente se sobressai no refrão. A letra apresenta passagens interessantes como “Tá tudo mal, mas tudo bem / Eu sei que pra você também” e o destaque fica para o coro que no refrão canta os versos: “Não se atreva a duvidar de nós”, mostrando toda capacidade artística e enérgica da banda.


Sua Alegria Foi Cancelada

“São quase seis e eu não sei se eu dormi / Ou atravessei outra noite sem sorrir”, esse é apenas um dos versos desmotivadores e tristes da canção. Os falsetes de Lucas no início dessa música deixam o clima melancólico que chega ao auge no refrão, quando somado a um piano acústico, que dá o peso que a canção precisa. O destaque fica por conta da cantora pop Jade Baraldo, que coloca sua voz na canção contrastando muito bem com o clima de tristeza criado na música.


Convicção

É uma das poucas músicas desse disco que poderiam estar em outro trabalho da banda e se encaixaria muito bem no álbum “Revanche” (2010). É uma das minhas favoritas do disco e tem um clipe sensacional. Assim como “Natureza Caos”, ela também foi lançada como single antes de estar presente em “Sua Alegria Foi Cancelada”. O teor claramente politico é demonstrado em trechos como “Não importa o que aconteça eles tem olhos pra você e eu” e até em estrofes inteiras como “Eles controlam o que a gente vê / e criam mitos para amedrontar / mas o que eles não sabem é que eu e você / e tantos outros vamos revidar”. É a música mais agressiva de todo álbum, chegando a relembrar os tempos de mais peso da banda, como na fase pós-saída da Universal Music.


De Verdade

Essa música traz uma letra muito sincera. Praticamente um desabafo de uma pessoa que sofre por ser ela mesma. A interpretação de Lucas nessa canção é uma das mais bonitas de toda a trajetória da banda. É talvez a canção mais simples do disco, harmonicamente falando.


Cada Acidente

Com uma sonoridade oitentista, a letra fala sobre as marcas que a vida trouxe ao personagem, mas sem deixar de lado a melancolia que pode ser ouvida em trechos como “No reino da tristeza eu cansei de ser rei”. Ela tem uma das melodias mais alegres do disco e participação do Trio musical Tuyo.


Quando Eu Caí

Nessa canção, Lucas traz um sentimento de queda que eu nunca vi em nenhuma outra letra. “Quando Eu Caí / Sem forças pra me erguer”: essa frase tem uma profundidade e uma tristeza muito grande e em minha opinião é a mais forte da canção. Um coral quase angelical se  mantém quase a canção inteira. Ela faz referência a outras canções da Fresno, como no verso ”O meu corpo é poeira, minha voz é trovão”. Essa música tem uma força incrível, que vem se erguendo aos poucos até chegar a seu ápice no refrão  com uma energia arrepiante.


Eu Não Sei Lidar

“Eu não sei lidar” é uma frase muito presente em toda a história da Fresno. Ela dá nome ao primeiro livro de Lucas e está presente na canção “O Resto é Nada Mais” (O Sonho de Um Visconde). Lucas disse que há tempos precisava de uma música com esse nome e sempre buscava inspirações. Ela encerra o disco mostrando que nem sempre todos os desfechos são felizes. O destaque dela, para mim, são as programações eletrônicas de muito bom gosto presentes durante toda a canção.


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