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Opinião: Afinal, o Funk é música boa?

Atualizado: 27 de mai. de 2020

Por: Guilherme Moro


Atualmente o funk é um dos ritmos mais populares do Brasil e invadiu a televisão, gravadoras, escritórios, rádios e tudo que faz parte do "mainstream", mas nem sempre foi assim. O funk sempre foi tachado de um ritmo de pessoas ligadas a criminalidade e as periferias, mas essa mudança vem acontecendo de 10 anos pra cá e eu vou te mostrar o porquê.

Para entendermos melhor como o funk chegou ao topo das paradas, é interessante olhar para trás e entender as origens do gênero. O funk é um ritmo derivado da Soul Music e chegou ao Brasil em meados dos anos 1970, quando eram realizados bailes nas regiões periféricas e nobres do Rio de Janeiro, onde o principal intuito dos mesmos era a diversão e a dança. Com o passar do tempo esses bailes começaram a ficar cada vez mais populares nas periferias da cidade fluminense, onde quase todos os bailes funk's eram comandados pelo DJ Malboro, que foi o primeiro a acreditar que se poderia fazer funk em português.

O mesmo DJ Malboro, nos anos 80, introduziu ao funk a batida eletrônica, que é peça fundamental no estilo nos dias atuais. No final dessa década, era lançado o primeiro disco de funk da história, intitulado de "Funk Brasil".

Mas foi a partir dos anos 2000 que o funk deixou de estar só nas periferias e começou a tomar conta danceterias, boates e baladas. Todos conhecem as músicas que eram feitas pelos funkeiros nessa época, mas ainda assim não se ouvia funk em rádios, nas televisões e meios de comunicação da grande massa (salvo em raras exceções).

Isso porque nessa época as gravadoras ainda dominavam o mercado musical e não davam espaço aos artistas do funk. Os funkeiros foram os primeiros artistas independentes a alcançar grandes números no país, depois dos Racionais MC's com o selo Cosa Nostra.

Longe da grande mídia, mas presente nas casas de milhares de brasileiros, coube ao funkeiros criarem seus meios para espalharem suas músicas, daí vieram sites e gravadoras independentes com o foco apenas no funk, como Funk Neurótico, Relíquias do Funk, Furacão 2000, Pipo's, etc. Os únicos artistas do funk dessa época que assinaram com uma gravadora (Universal Music) foram a dupla Claudinho & Buchecha, mas assim que o contrato foi assinado a dupla se voltou mais para a música pop.

A partir dos anos 2010, principalmente no ano de 2012, o gênero começou a chamar cada vez mais a atenção das grandes mídias com o sucesso do chamado "Funk Ostentação". Era cada vez mais comum ver artistas do meio nos canais de TV e em programas consolidados de auditório.

Em 2013, o funk sofreu um grande baque com o assassinato do MC Daleste, em meio a um show na cidade de Campinas, onde o funkeiro foi baleado e não resistiu.

A partir de 2014 a ascensão do funk estava cada vez mais evidente. As gravadoras, já pouco relevantes no cenário musical, se viram obrigadas a ceder e gravar artistas do gênero. O selo KondZilla, que existe desde 2012, produz os clipes dos funkeiros mais populares, fazendo um trabalho extremamente relevante e possui o maior canal do Youtube da América latina e o segundo maior de todo o planeta no segmento musical, somando mais de 50 milhões de inscritos. Desde 2017, o KondZilla mantem o selo "KondZilla Records" que além de ser uma gravadora é uma agência de carreiras.

Chegamos a 2020, onde o funk já é unanimidade no cenário musical, com músicas nas paradas, relevância no mercado e movimentando milhões de reais na indústria musical. Lá em 2012, nas redes sociais, era comum ver a frase "funk não é cultura". Essa frase ficou muito famosa para mostrar a indignação de algumas pessoas com as letras de baixo calão produzidas por determinados artistas e isso incomodava várias pessoas. Porém palavras e temas considerados chulos e de baixo calão não são exclusividade do funk, alguns artistas do rock e da música pop também pegaram carona nesses temas, seja para causar impacto ou simplesmente por gostar. Portanto, nessa época havia um preconceito com o funk, que na minha opinião hoje não existe mais.

Voltando a 2020, a maior representante do funk é a Anitta, que apesar de hoje em dia fazer música pop, indiscutivelmente mantém as raízes do gênero. Com passe livre na Warner, ela manda e desmanda no cenário, ditando modas e tendências. Me arrisco a dizer que seu álbum "Bang" (2015) é um dos melhores álbuns de música pop feito no Brasil.

Ainda nos dias de hoje, existe uma grande discussão sobre o funk ser música boa ou não, mas a verdade é só uma: o funk hoje é a música de uma geração, assim como o rock de Legião Urbana, RPM e tantas outras bandas foram nos anos 80 e como o rap dos Racionais MC's e Gabriel, o Pensador foram nos anos 90. Isso é um fato. E sobre o funk ser música boa ou não, quem sou eu pra julgar? Por muitos anos eu fiquei ignorando a ascensão que o gênero vinha alcançando, simplesmente por ter a ignorância de não olhar a fundo o que estava acontecendo naquele movimento musical e achar que ele era apenas uma cópia barata e mal feita que manchava o nome do funk americano, que tem como um de seus principais ídolos o cantor James Brown. Se hoje o funk está no topo, não é simplesmente porque "não se faz mais músicas como antigamente" como muitas pessoas dizem. O funk chegou ao topo depois de muitos anos sendo renegado pelo "mainstream", mesmo o segmento tendo um público fiel. Sendo assim, é mais do que merecido o reconhecimento do funk como um dos ritmos que ditam o mercado musical.



Capa do álbum Funk Brasil (1989) lançado pelo Dj Malboro

Anitta é uma das grandes influências no cenário do funk

KondZilla domina o mercado musical

MC Kevinho em apresentação no "Villa Mix"


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