Odair José relembra censura a "Pare de Tomar a Pílula" durante a ditadura militar
- Guilherme Moro
- 3 de out.
- 2 min de leitura
Em entrevista ao Música Boa, nos bastidores de um show realizado no Sesc Ribeirão Preto nesta quarta-feira (02), o cantor e compositor Odair José resgatou uma das histórias mais emblemáticas de sua trajetória: a censura da canção Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula), lançada em 1973, durante o a ditadura militar.
Considerado um dos artistas mais populares da década de 1970, Odair relembrou como a música, em que o personagem pedia para que a esposa não utilizasse anticoncepcionais, foi rapidamente silenciada pelo governo.
“O anticoncepcional naquele período, no início da década de 70, era um assunto proibido. Quando a música saiu, em uma semana era um sucesso danado. De repente eu estava falando em uma canção: pare de tomar a pílula. Isso parou o Brasil em uma semana. Na segunda, a censura proibiu. O governo veio e proibiu”, contou.

Segundo o cantor, a justificativa das autoridades para a proibição estava ligada a um projeto de controle de natalidade.
“Fomos até Brasília e o que ouvimos era que o governo tinha um projeto de distribuir pelo Brasil afora anticoncepcionais gratuitamente, para que as pessoas tivessem o controle da natalidade. E que não iam permitir que uma música dissesse pare de tomar a pílula tocasse no rádio".
Mesmo após seus argumentos de que a canção ajudaria a popularizar a informação sobre o anticoncepcional entre camadas mais populares da sociedade, a decisão foi definitiva.
“A música foi proibida, sempre proibida. Não foi liberada nunca, só quando a censura acabou, quando o governo militar acabou. E o projeto do governo, um fracasso danado. E a pílula, mesmo proibida, fez sucesso. Um baita sucesso”, lembrou.
A força da canção proibida
Apesar do veto, Pare de Tomar a Pílula permaneceu no imaginário popular como uma das composições mais marcantes de Odair José. A história evidencia o alcance de sua obra. Cinco décadas depois, o episódio ainda ecoa como retrato de uma época em que a música brasileira precisou enfrentar barreiras para se manter como expressão cultural e espaço de resistência. Até mesmo nas histórias mais simples.