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Lives musicais se tornaram mais do mesmo

Atualizado: 17 de jul. de 2020

Por: Guilherme Moro


Em meio à situação pandêmica que estamos atravessando, as lives viraram uma alternativa para os artistas continuarem levando conteúdo aos fãs e seguirem cativando um novo público. A febre das lives se iniciou no Instagram, logo no início da pandemia, quando artistas interagiam com seus fãs em tempo real, de maneira simples e rápida.


A primeira live feita nos moldes que estamos acostumados atualmente, foi a do cantor Gusttavo Lima, em 28/03/20, onde mais de 750 mil pessoas assistiram o conteúdo do cantor mineiro. O evento virtual intitulado de “Buteco em Casa” causou alvoroço e mudou o conceito de como se realizar uma live. Nunca ninguém havia feito um show de maneira virtual e caseira daquele tamanho, com uma estrutura invejável, extrema qualidade de áudio e vídeo e com uma inacreditável duração de 5 horas. Era o pontapé inicial para uma avalanche de lives que estariam por vir. Dominada pelos cantores sertanejos, lives de artistas como Marília Mendonça, Jorge & Mateus, Henrique & Juliano, Bruno & Marrone e tantos outros cantores, ultrapassaram mais de 2 milhões de espectadores simultâneos.


Já se vão três meses de lives e mais lives, que são apresentadas quase que diariamente ao público. É bem verdade que elas têm um fator extremamente nobre e altaneiro que são as doações arrecadadas no momento em que elas são realizadas, porém analisando apenas o ponto de vista artístico, depois de tanto tempo “martelando” o mesmo formato, ele saturou.


Como dito anteriormente, as lives serviam de “ponte” para artistas e fãs se manterem conectados entre si, mas, com o decorrer desse período, elas foram tomando proporções gigantescas e sendo uma ótima alternativa a shows, com alguns artistas recebendo um cache de patrocínio gigantesco para realizar o evento virtual. Era muito legal ver seu artista favorito cantando canções que há muito tempo não estavam no repertório e interagindo com o público de maneira descontraída e sem nenhum receio de repercussão negativa que poderia vir, mas tudo começou a ficar monótono de um mês para cá: a falta de originalidade que a música vem sofrendo nos últimos 10 anos pegou em cheio as novas lives que em apenas 2 meses de ascensão já se tornaram algo extremamente repetitivo. É frustrante não ver ninguém se propor a criar algo diferente para o público que apóia e tanto pede por um conteúdo de seu amado artista.


Um bom exemplo da monotonia que tomou conta das lives são os diálogos excessivos por conta do grande número de propagandas feitas ao longo da apresentação. É fato que todo artista tem que fazer o merchandising, o que é extremamente correto, afinal ele está sendo pago para isso. No entanto, da maneira como está sendo aplicado, vem ficando algo chato e excessivo, pois em um repertório com 15 músicas, que resultaria em no máximo 1h15min de apresentação, o show se arrasta por mais de 2h devido ao excesso de anúncios. Claro que existem exceções, com alguns artistas fazendo os anúncios de uma maneira inteligente e que não canse o público e é disso que o cenário precisa: originalidade! Outro exemplo dessa monotonia é a escolha de repertório, principalmente entre artistas do sertanejo, uma vez que não é difícil ter a mesma música executada simultaneamente em duas ou mais lives.


Não estou dizendo que as lives têm que acabar, longe disso, elas vieram para ficar. Penso que a maneira de se executar e criar o formato live, tem que ser completamente reformulado, sempre com idéias originais, contundentes e criativas e dar um pequeno passo a frente para a mudança do cenário musical em geral que, há pelo menos 10 anos, é mais do mesmo.


Para ouvir a opinião da classe artística, o Blog Música Boa conversou com 4 músicos de diferentes segmentos.



(Rafael Lia - Guitarrista da banda Mucky Fingers)

No início achei a ideia legal porque havia um propósito bacana envolvendo arrecadação de recursos, bem como a parte divertida da coisa que era a interação do artista com os fãs. Penso ainda que os artistas arranjaram uma nova forma de entregar seu trabalho e ter um grande alcance de público sem tanto gasto com produção e deslocamento, então esse formato deve continuar por um bom tempo. No entanto, como tudo que vira febre no Brasil, passamos a ver lives praticamente diárias e o que era novidade foi meio que perdendo a graça. Particularmente não tenho muita paciência pra acompanhar essas lives, a única que vi inteira foi a do Skank, mas pra mim é como sentar no sofá e assistir a um DVD qualquer. Não me pega. Nessa situação em que estamos isolados em casa acaba sendo uma forma de passar o tempo, mas voltando a nossa rotina normal tenho minhas dúvidas se o pessoal vai deixar de ir pra um barzinho num sábado a noite pra ficar em casa e assistir um show no youtube.





(João Manoel - Cantor e Violeiro)

Eu acredito que a proposta inicial das lives era relevante, pois trazia um ar de descontração e proximidade com os fãs. No entanto, depois de um tempo elas começaram a ficar engessadas e cheias de propaganda, e penso que isso fez o público enjoar um pouco. Após diversas reclamações sobre as bebedeiras, o Conar "censurou" diversas lives, fazendo com que os artistas ficassem com medo de se soltar. Eu, particularmente, gosto de ver o artista brincando com público, como se estivesse numa roda de viola em sua própria casa, e não toda aquela produção de shows profissionais.





(Leonardo Santiago - Guitarrista da banda Freeband e Professor de Guitarra)

É uma situação muito complicada e delicada. Na verdade, na minha opinião, não tem nada de monótono ou errado com as lives. Nunca antes transmissões ao vivo tiveram toda a estrutura que têm hoje sejam nas imagens simultâneas e também na qualidade do áudio, levando em consideração que o sinal chega ao receptor sem o devido tratamento. Mudanças ocorreram como tradutores de libras tornando assim mais interativo. Houveram também acréscimo de sorteios durante as transmissões fazendo com que se mantivessem por mais tempo pessoas assistindo. De certa forma, no começo dessa pandemia, lives eram uma das saídas de entretimento e era comum o número alto de acessos simultâneos. Os acessos hoje são menores do que no começo por terem aumentado o número de artistas fazendo as transmissões e as pessoas sentem falta mesmo daquela “energia” que um evento carrega.




(Ceffas Fihlo - Baterista das bandas ELMMO e SAGHRAT)

Geralmente, quando alguém lança uma tendência, todo mundo começa a utilizar, o que até faz sentido. Agora em julho completamos o 4° mês de quarentena e o formato está realmente saturado. Primeiramente, live já não é uma novidade, todo dia tem alguém fazendo live com o mesmo formato. Aguardemos as próximas tendências.



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