Um dos precursores do Punk Rock nacional, integrante da Plebe Rude desde 2004, apresentador do programa "Estúdio Showlivre" no Youtube e do "Filhos da Pátria" na rádio Kiss FM. Clemente é uma das maiores referencias do rock nacional e nessa entrevista ele contou um pouco de momentos históricos dos Inocentes, como foi a entrada para a Plebe Rude e diversas outras histórias.
Foto: (Raquel Cunha/Folha Press)
Blog Música Boa
Clemente, você iniciou a carreira como baixista do grupo Restos de Nada, a primeira banda punk rock do Brasil. Como despertou seu interesse musical? Quais foram as primeiras grandes influências?
Clemente
Cara, eu comecei tocando baixo, em 1978, na banda Restos de Nada. O interesse pela música veio muito do Douglas Viscaino (Guitarrista do Restos de Nada). Na verdade, ele queria muito montar uma banda e precisava de alguém que acompanhasse ele, então o Douglas me ensinava as bases das músicas no violão que ele tinha. Fui tomando gosto e tinha facilidade para aprender. Nós ouvíamos muito Black Sabbath e rock and roll no geral.
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Em 1981 foi formado o grupo Inocentes. Como era a cena Punk Paulistana naquele momento?
Clemente
Quando o Inocentes foi formado a cena punk estava nascendo. Na verdade, nós estávamos a criando. O primeiro festival punk que se tem notícia, foi feito em 1980 onde algumas bandas como Condutores de Cadáver, Restos de Nada, Cólera, entre outras, participaram. Foi um marco. O festival foi feito no carnaval e durou três dias. Ali começou a se formar a cena, que foi se estabelecer em 1981. A partir disso começamos a organizar festivais e o Inocentes participava de todos eles, ao lado de bandas como Cólera, Olho Seco, Fogo Cruzado e, posteriormente, Ratos de Porão.
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O Punk ganhou projeção nacional e o Inocentes foi um dos maiores expoentes do gênero. Como vocês expandiram o Punk para todo o Brasil e de que maneira ocorreu a invasão das bandas Punk no Rio de Janeiro?
Clemente
O punk paulistano tinha uma coisa muito louca: nós éramos reconhecidos mais fora que dentro do Brasil. Nós já mandávamos discos para a Finlândia, Inglaterra, Itália, Alemanha, Argentina, Paraguai, Uruguai e no Brasil a gente era da periferia. Até que saiu uma matéria no Estadão, escrita pelo Luiz Fernando Emediato, falando mal das bandas punks e dizendo que a gente misturava leite com limão para vomitar. Depois disso, estávamos em uma reunião na Punk Rock Discos e fui incumbido de escrever uma carta resposta para o jornal. Graças a ela, muitas pessoas ficaram sabendo que existia punk no Brasil. O show no Rio de Janeiro foi após um ano que a gente ficou dando entrevistas para muitos meios de comunicação. O punk ficou conhecido no Brasil todo e o Rio de Janeiro não ficou de fora. Entramos em contato com os punks do Rio e fizemos um show em um bairro da periferia da cidade. Depois pintou um lance de fazer um show no Circo Voador. Era um festival e várias outras bandas e foi uma loucura. Além desse, teve outro que foi feito no Morro da Urca. Em 1983, nós conquistamos o Rio de Janeiro.
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Dentre os três álbuns lançados pelo grupo na WEA, qual é seu favorito e por quê?
Clemente
Eu gosto de todos, mas acho que o mais marcante é o “Adeus Carne”. É um álbum que tem uns arranjos maravilhosos e músicas muito boas. É um álbum que a gente estava muito inspirado. Ele tem começo, meio e fim. É conceitual. O “Pânico em SP” eu gosto, mas ele é praticamente uma fotografia, apenas um registro de um momento nosso.
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Como surgiu a ideia da icônica capa do álbum homônimo de 1989?
Clemente
A gravadora queria os quatro integrantes na capa e nós não queríamos. Com isso ficou uma briga e o Tonhão (Ex - Baterista do Inocentes) teve essa ideia de tirar a foto com todo mundo pelado, com o intuito de a Warner não lançar com a capa. Infelizmente os caras adoraram. Foi um tiro que saiu pela culatra (risos).
Capa do álbum "Inocentes", lançado em 1989
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O programa “Na Estrada Com a Music”, mostrou, em seu sexto episódio, a turnê que a banda fez pela Europa no ano passado. Fale um pouco de como foi essa turnê e da importância dos registros feitos pelo programa. Estão com saudades de fazer shows?
Clemente
Cara, essa turnê foi muito legal. Nós fomos umas das últimas bandas clássicas do punk rock paulistano a ir para Europa. Desde os anos 80 nós já éramos reconhecidos por lá. Por uma série de empecilhos nós demoramos para ir, mas fomos na hora certa. É um momento muito bom da banda, a formação está muito legal. Fizemos quatro shows na Inglaterra e dois na Finlândia. Foi uma turnê muito legal. A gente está com muitas saudades dos shows, mas infelizmente não tem muito que fazer. A gente até fez uma live, mas estamos aguardando passar essa pandemia.
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Você integra a Plebe Rude desde 2004. Como ocorreu o convite para entrar na banda e qual a importância da Plebe na sua carreira?
Clemente
Eu conheço os caras desde 1983, quando eles vieram para São Paulo fazer show pela primeira vez. Eu fui buscar eles na rodoviária. Literalmente eu sou o primeiro punk que os caras viram em São Paulo. A gente é amigo desde essa época, tocávamos juntos, íamos pra rolê juntos. Os Inocentes e a Plebe eram duas bandas irmãs. Quando eu encontrei o Philippe Seabra (Vocalista da Plebe Rude) em 2004, eu estava com um projeto que tinha o Mingau (Baixista do Ultraje a Rigor) e o Redson (Guitarrista do Cólera). Uma vez o Philippe veio como convidado, a gente tocou junto e eu vi que ele tava me olhando. Foi então que ele me ligou e fez o convite. Como eu gosto da Plebe eu aceitei de cara. Já faz 16 anos.
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O filme “A Plebe é Rude”, mesmo sendo lançado recentemente, recebeu o troféu Toninho Campos do voto popular, na 5º edição do Santos Film Fest. Como essa notícia chegou até vocês e de que maneira esse documentário contribuiu para a história da Plebe?
Clemente
Cara, um documentário é sempre legal porque a gente leva para os fãs coisas que eles não sabiam até então. O fato ganhar o troféu foi algo muito legal. A contribuição do documentário é sempre levar a história da banda para o maior número de pessoas possível.
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Voltando a falar dos Inocentes, como foi a recepção do EP “Cidade Solidão”, lançado no ano passado?
Clemente
A recepção foi muito legal. Pessoal curtiu muito, está vendendo e foi ele que nos levou até a Europa. É um disco da nossa fase atual. A gente se orgulha muito dele. Ele foi lançado em Vinil, cassete e CD, graças a parceria com a HBB. O show de lançamento no SESC Pompéia, em janeiro desse ano, estava lotado. Todos os ingressos foram vendidos.
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A Plebe lançou o álbum “Evolução Vol.1”, no ano passado. Considera esse disco uma verdadeira evolução na carreira da banda? Futuramente, ele ganhará um “Volume 2”?
Clemente
Realmente é uma evolução. É um disco que conta uma história e isso permite que a gente use outros elementos sonoros para contar essa história. Isso é muito legal. Tem música que é orquestrada, outras que tem violão pra caramba, balada, pop, pesada, gritada. É legal que pôde mostrar a pluralidade sonora da Plebe e claro, do Philippe Seabra como produtor. Ele ganhou prêmio com a trilha sonora do filme “Faroeste Caboclo”. Esse disco traz muito esse clima. A ideia é transformar esse álbum em um musical. O Volume 2 já está pronto, só não lançamos ainda porque nós não conseguimos fazer nenhum show do Volume 1. Precisamos retomar, ensaiar tudo de novo e assim que a gente conseguir iniciar os shows do Volume 1, vamos lançar o segundo volume.
Foto: (Plebe Rude/Divulgação)
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Clemente, o Estúdio Showlivre hoje é um gigante dentro da internet. Qual era a ideia inicial do programa e como surgiu a oportunidade de apresentar o programa?
Clemente
O convite para fazer o Showlivre pintou mais ou menos junto com o da Plebe. Era uma época que nem tinha banda larga. Precisávamos de um e-mail do UOL e BOL para entrar na internet. O Showlivre já existia, mas só fazia cobertura de shows. O meu primeiro programa no Showlivre foi o “Pé na Porta”, aonde eu ia na casa dos artistas e trocava uma ideia. Depois veio o “Estúdio Showlivre” como conhecemos, em que as bandas vão e fazem um som. A gente veio acompanhando toda essa evolução da internet nos últimos anos. O tamanho que o Showlivre tem hoje foi uma coisa construída ao longo dos anos.
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Além do Showlivre, quais outros projetos paralelos você faz parte?
Clemente
Cara, eu tenho meu programa de rádio que se chama “Filhos da Pátria”, que é dedicado ao rock nacional. Na vinheta eu mesmo falo “o passado, o presente e o futuro do rock nacional”. Ele vai ao ar todas as quartas na Rádio Kiss FM, das 12:00 a 13:00. Também tenho meu projeto solo “Clemente e a Fantástica Banda Sem Nome”, do qual eu desejo lançar um novo disco. Produzo bandas, apresento festivais e estou sempre envolvido em outros projetos.
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Obrigado pela entrevista, Clemente! Foi uma grande honra!
Clemente
Obrigado pelo convite, Guilherme! Muita sorte no seu Blog Música Boa. Se eu fui convidado é porque a música é boa mesmo (risos).