Existem coisas que somente o tempo pode transformar. É ele que concretiza a história e sintetiza a cronologia de acontecimentos que podem ser concebidos em um fato. Também foi ele que tornou um álbum massacrado pela crítica, em um clássico absoluto da música sertaneja, assim como já fez tantas outras vezes em obras de outros gêneros musicais.
“Cowboy do Asfalto” é o 15° álbum de estúdio de Chitãozinho & Xororó. Os irmãos estavam em uma nova fase da carreira, pois há pouco tinham saído da Copacabana, selo que os acompanhou desde o início da carreira, para integrar o casting da Polygram, tornando assim, os primeiros artistas sertanejos a gravarem por um selo multinacional, ao lado de João Mineiro & Marciano.
A estreia dos irmãos na nova gravadora foi em 1989, com o bem sucedido “Os Meninos do Brasil”, que fez com que eles se tornassem os artistas fora do gênero MPB que mais vendessem discos dentro da major.
O fato fez com que a expectativa para um próximo álbum aumentasse ainda mais, e foi em dezembro de 1990, que chegou às lojas “Cowboy do Asfalto”, um álbum que trazia uma sonoridade completamente diferente para a época, tanto na implementação de novos instrumentos, quanto nas músicas que apresentavam arranjos que iam da viola caipira ao rock progressivo.
A sonoridade extremamente moderna para os moldes sertanejos da época não agradou a imprensa especializada. Tárik de Souza criticou o álbum por ser um “sertanejo de aspirações urbanas” e deu a entender que a dupla embarcou na onda de Roberto Carlos, fazendo um trabalho recheado de baladas românticas.
33 anos depois, é notório que a dupla modernizou o seu som e mesmo com muitas baladas românticas, a essência sertaneja está muito bem resguardada em faixas como “Natureza, Espelho de Deus”, “Gente Humilde” (regravação de Chico Buarque) e “Longe”.
Era uma nova linguagem que trouxe aspectos populares e abriu caminho para que o gênero pudesse alcançar o topo na década de 90 e duplas como Zezé Di Camargo & Luciano, Leandro & Leonardo, Gian & Giovani e muitas outras brilhassem.
O álbum se inicia com “Evidências”, canção que fez sucesso na época, mas ganhou outro significado com o passar dos anos, principalmente após o programa Estúdio Coca-Cola Zero, exibido pela MTV em 2008, onde a banda Fresno fez sua versão e apresentou a canção para um novo público, fazendo com que hoje ela se tornasse um dos maiores hits da história deste país. A gravação presente neste disco obteve um solo de guitarra magnífico de Faíska (confira aqui essa história), um dos maiores guitarristas do Brasil.
Também se destacam “É Assim Que Te Amo”, versão de “The Air That I Breathe”, da banda britânica The Hollies, que entrega um dos maiores vocais de Xororó em toda a carreira, “Tô Deixando Você”, que contém um solo incrível de saxofone e “Nuvem de Lágrimas”, gravada por Fafá de Belém um ano antes, que também se tornou um grande sucesso.
A mais curiosa canção do álbum talvez seja “Sem Estória, Sem Destino”, que ficou esquecida na linha do tempo da carreira da dupla e nunca foi tocada ao vivo, mas que possui um magnífico solo de guitarra e uma sonoridade totalmente ligada às bandas de rock progressivo, como citado no início desta resenha.
“Cowboy do Asfalto” é dos discos mais importantes da música sertaneja, apesar de muitos que se dizem especialistas no gênero se quer conhecerem sua história e relevância. Se hoje o sertanejo é relevante, essa obra tem muita interferência.