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Zezé Di Camargo não precisava disso

  • Foto do escritor: Guilherme Moro
    Guilherme Moro
  • há 2 horas
  • 2 min de leitura

Zezé Di Camargo é daqueles artistas que caíram nos braços do povo brasileiro. Ao lado do irmão, construiu uma das carreiras mais bem-sucedidas da música nacional, atravessando gerações, classes sociais e mudanças profundas na indústria cultural. Goste ou não de sertanejo, é inegável a dimensão artística e simbólica de Zezé Di Camargo & Luciano no imaginário do país, extremamente impulsionada pelo sensacional longa-metragem "Dois Filhos de Francisco".


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Causou impacto o vídeo publicado pelo cantor na madrugada desta segunda-feira, no qual ele expressa revolta com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na inauguração do SBT News. Na gravação, Zezé pede que a emissora não exiba seu especial de Natal, programado para ir ao ar nesta quarta-feira (17), e faz críticas diretas às filhas de Silvio Santos, afirmando que elas “pensam totalmente diferente do que o pai pensava".


É impossível ignorar o contexto atual: tudo passa pela política. Artistas se posicionam, o público reage, e as redes sociais transformam qualquer manifestação em um campo de batalha. Zezé tem todo o direito de se posicionar politicamente, apoiar quem quiser e expressar sua visão de mundo. Ora, uma parcela significativa de seu público concorda com ele.



Ainda assim, o episódio revela um ruído desnecessário. Lula é o presidente da República, eleito democraticamente, e o SBT é uma das maiores emissoras do país, historicamente aberta ao diálogo com diferentes governos. O próprio Silvio Santos, citado de forma problemática no vídeo, recebeu em seus programas praticamente todos os presidentes do Brasil. Se houve alguém profundamente político no sentido mais pragmático da palavra, esse alguém foi Silvio Santos, sempre atento ao poder, às circunstâncias e aos interesses de sua emissora.


Ao trazer o debate para um terreno pessoal e familiar, Zezé problematizou algo que, até então, não era uma questão pública. Ninguém havia se incomodado. A presença de um presidente em um evento institucional de uma emissora jamais foi novidade no Brasil. Seja ele de esquerda, direita ou centrão. Transformar isso em uma crise moral e simbólica soa desproporcional e, sobretudo, evitável.


Um dos álbuns que mais gosto da dupla, lançado em 2005, se abre com um texto recitado por Zezé em que ele se coloca como um intérprete das coisas simples, alguém a quem foi dada a missão de “falar o que o povo sente”. Essa imagem do poeta popular, conectado às emoções coletivas, sempre foi central na construção de sua figura pública e, de fato, ele a cumpriu com competência ao longo de décadas.


É aí que o episódio desta semana pesa. O Mirosmar José de Camargo, acabou muitas vezes, se sobrepondo ao Zezé Di Camargo artista. E, nesse movimento, criou um desgaste que não acrescenta à sua trajetória nem ao papel que ele mesmo sempre reivindicou: o de porta-voz dos sentimentos, e não das divisões. "Poeta das coisas simples".


No fim das contas, não se trata de censurar posicionamentos políticos, mas de reconhecer o peso da palavra quando ela vem de alguém que fala para milhões. Talvez tenha faltado contenção. Talvez tenha sido um impulso. Mas definitivamente, o Mirosmar não precisava aprontar essa com o Zezé Di Camargo.



 
 
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