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Vinte e oito: a idade da sinfonia agridoce

  • Foto do escritor: Stephanie Ferreira
    Stephanie Ferreira
  • 23 de jun.
  • 3 min de leitura

“Bitter Sweet Symphony” completou 28 anos na última segunda-feira. Vinte e oito. Um número que pesa quando a gente percebe que essa música segue atravessando gerações com a mesma força com que surgiu, mesmo tendo sido lançada em uma era completamente diferente da nossa.


Há algo de impossível naquela abertura orquestral — uma progressão melódica que nos paralisa antes mesmo da primeira frase ser cantada. É um tema que se tornou maior que o próprio The Verve, maior do que o Urban Hymns (1997), maior até do que a polêmica que envolveu seus direitos autorais. É sobre isso: um hino existencialista que fala da falta de controle que temos sobre a vida, mesmo quando queremos fazer disso tudo uma sinfonia agridoce.


A música é construída em cima de um loop de cordas sampleado da versão orquestral de “The Last Time”, dos Rolling Stones, numa execução da Andrew Oldham Orchestra. E o que era pra ser uma homenagem virou um pesadelo judicial: os direitos foram tomados de Richard Ashcroft e da banda por mais de duas décadas. Só em 2019 é que Mick Jagger e Keith Richards devolveram os créditos para Ashcroft. Um gesto tardio, mas simbólico, de que finalmente a música podia voltar a ser de quem a escreveu de verdade.



Mas o que faz “Bitter Sweet Symphony” resistir ao tempo não é só sua história de bastidores. É a maneira como ela comunica o desalento sem soar derrotista, como escancara a alienação do cotidiano. E foi exatamente esse tipo de experiência, essa forma de conexão crua, urgente e emocional, que YUNGBLUD conseguiu provocar, ao apresentar seu cover da música no BBC Radio 1’s Live Lounge.


O que parecia intocável ganhou novas camadas de vulnerabilidade e fúria contida. Sem desrespeitar a estrutura original, o artista transportou o clássico para 2025, com uma leitura que não apenas homenageia, mas também transforma. Em vez de repetir, ele ressignificou. E isso é o mais difícil de se fazer com uma obra-prima: dar-lhe outro fôlego, sem retirar sua alma. Com um arranjo mais cru, vocal rasgado e entrega que parece vir do fundo do estômago, ele não apenas interpretou, ele sentiu. E, por consequência, fez a gente sentir também.



Nada nisso é por acaso. Ele completa 28 anos neste mesmo ano. Assim como eu. Assim como a própria “Bitter Sweet Symphony”. E se a gente não acredita mais em coincidências, talvez exista algo nessa idade que une todos nós: essa sensação agridoce de estar no meio do caminho. Sabendo o que quer, mas ainda tateando como chegar lá. Relembrando por que começou. Redescobrindo o que te move.


É essa energia que parece guiar o novo álbum do YUNGBLUD, Idols, disponibilizado na última sexta-feira. O nome já diz muito: ídolos são quem nos formam, mas também quem a gente precisa ultrapassar. E, segundo o próprio artista, esse disco vai ser uma volta às raízes — rock cru, letras íntimas, questionamentos sobre identidade, fama e arte. O cover veio como uma chave de leitura: ele está abrindo o coração antes de abrir a porta da nova fase.



YUNGBLUD, que tem como assinatura justamente essa intensidade instável e esse senso de urgência emocional, não se contenta em apenas revisitar um clássico. Ele faz da memória um território vivo, ativo, em combustão. E nesse processo, lembra que ainda existem artistas dispostos a sentir profundamente e a transformar sentimento em matéria sonora, sem medo do que possa vir daí. E talvez seja isso que nos conecta, 28 anos depois: a necessidade de sentir algo real, mesmo que doa. Especialmente se doer bonito.



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