A Fresno faz parte do seleto grupo de bandas brasileiras que possuem uma discografia consistente e com excelentes trabalhos ao longo de toda a carreira. Em 23 anos de história, o grupo lançou nove álbuns de estúdio, além de dois EPs e três álbuns ao vivo.
Falar sobre uma trajetória tão extensa como a do conjunto gaúcho não é tarefa fácil, mas nesta lista, vamos enumerar os álbuns estúdio, começando do pior, até chegar ao melhor lançamento.
Vale ressaltar que em todos projetos lançados, existem pelo menos três músicas excelentes, fato este que só mostra a qualidade da carreira traçada por Lucas Silveira e cia.
9° - "Quarto dos Livros" (2001)
Algumas bandas têm o privilégio de terem criado verdadeiras obras primas logo no primeiro álbum que gravaram, o que não é o caso da Fresno. Aliás, é até covardia exigir muito do grupo, que naquele momento, gravava suas canções de forma precária e não tinha nenhuma experiência em estúdio.
A gravação de baixa qualidade não passa despercebida, mesmo com a remasterização feita pela banda anos depois e que hoje se encontra nas plataformas de áudio. Músicas como "Se Algum Dia Eu Não Acordar" e "Carpe Diem" sintetizam a inocência do compositor, Lucas Silveira, que trouxe todo o material que escreveu ao longo da vida para compor o álbum.
Mesmo com esses problemas, o álbum possui ótimas canções como "Stonehenge" (uma das queridinhas dos fãs), "Teu Semblante" e "Desde Já", sendo que as duas primeiras citadas, ao lado de "Sono Profundo", ganharam regravações bem melhores, cinco anos depois, com o lançamento do álbum "Ciano".
Alguns fãs dizem que este é o melhor álbum da banda, mas convenhamos, tal colocação não passa de mero saudosismo, haja vista a qualidade infinitamente superior das canções e da sonoridade que o grupo alcançaria poucos anos depois.
8° - "Redenção" (2008)
Inserir este álbum em uma posição tão baixa desta lista pode ser um tiro no pé, já que este é o mais bem-sucedido projeto da banda, comercialmente falando. É o primeiro deles lançado pelo selo Arsenal, da Univesal Music, no momento de maior exposição midiática dos caras.
Com produção de Rick Bonadio, a verdade é que tenho mais coisas boas do que ruins para falar sobre este álbum. A sonoridade é completamente diferente do anterior, já que foi gravado em um dos principais e mais famosos estúdios musicais do país: o Midas. Apesar disso, o som radiofônico, com o volume das guitarras e da bateria com volumes extremamente baixos em comparação aos demais trabalhos da banda, sem falar nos pratos com sonoridade modificada para ficarem mais audíveis quando a música fosse executada no rádio, diminuem muito o peso de excelentes musicas como "Europa", "Redenção" e até mesmo "Milonga".
Se engana os que pensam que a sonoridade pop do trabalho está ligada totalmente à produção do disco. A banda já tinha um conceito totalmente pronto do que se tornaria o "Redenção", com a inserção de teclados e elementos eletrônicos. O que houve, foi que com a chegada da banda em uma gravadora, o que já era pra ser pop, se tornou popularesco.
Músicas como "Polo", "Goodbye", "Passado", "Você Perdeu de Novo" e "Uma Música", são completamente negadas pela banda, que não as executa há anos em apresentações ao vivo, mesmo a primeira e a última citadas sendo hits que tocaram muito no rádio na época.
A faixa que mais consegue ser o meio termo entre a sonoridade da Fresno antes e depois de chegarem nas mãos de Rick Bonadio, é "Desde Quando Você Se Foi".
7° - "O Rio, a Cidade, a Árvore" (2004)
Segundo álbum de estúdio dos caras, o trabalho tem uma importância absurda para a carreira da banda, pois os consolidou como um dos maiores grupos do cenário underground de todo o Brasil fazendo suas músicas logo se proliferaram na internet.
O álbum possui letras mais maduras que o primeiro lançamento e até mesmo que o citado anteriormente nesta lista. Há uma clara evolução de produção e de qualidade do disco, que pega onda na sonoridade hardcore explorada por bandas como o CPM 22, que já faziam muito sucesso na época.
O trabalho traz a primeira faixa que a banda obteve execuções em rádio: "Onde Está", que se tornou o único single e alavancou a Fresno com shows por todo o Brasil, ainda que de forma amadora a independente.
"Duas Lágrimas" também é um destaque a parte e ganhou uma importância a parte após o programa da MTV, Estúdio Coca-Cola Zero, onde Chitãozinho & Xororó fizeram um arranjo completamente diferente da canção e até a regravaram no álbum de carreira "Se For Pra Ser Feliz" (2009).
6° - "Vou Ter Que Me Virar" (2021)
O mais recente álbum do grupo é o primeiro dos caras em trio, após a saída de Mario Camelo, que com seus teclados, ajudou muito na evolução da sonoridade que o grupo teve nos últimos anos.
O projeto teve a difícil missão de suceder "Sua Alegria Foi Cancelada", álbum que recolocou a Fresno no cenário mainstream e que vamos falar em breve nesta lista. "FUDEU!!!", "Casa Assombrada" e "Já Faz Tanto Tempo", que traz a participação de Lulu Santos, são os grandes destaques e conseguem ditar muito bem as facetas provocativas, emocionais e pops que a obra percorre.
"Vou Ter Que Me Virar", faixa-título, é interessante mas não empolga como as citadas no parágrafo anterior e "AGORA DEIXA", música com sonoridade pop-indie, soa massante e não tem muito o que dizer, ao contrário de "ELES ODEIAM GENTE COMO NÓS", uma canção fundamental para a época em que o álbum foi lançado.
Aparentemente, este disco põe um fim na fase electropop/indie da banda, que deve buscar novos horizontes nos próximos lançamentos.
5° - "Revanche" (2010)
(Eu Quero viver mais / Muito além do que você programou). É com essa frase que se inicia este álbum da Fresno, que é praticamente uma resposta à crítica da época e principalmente às imposições pops do produtor musical e empresário Rick Bonadio.
Em 2011, em entrevista à Rolling Stone, Lucas Silveira disse que a visão de Rick era "‘Você tem que ter um disco, mas tem que ter essas músicas pra trabalhar na rádio’. Só que, a partir do momento que você começa a trabalhar pensando assim, você já não consegue mais fazer uma música espontânea”.
A fala justifica faixas excelentes e ao mesmo tempo pesadas como "Die Lüge", "A Minha História Não Acaba Aqui", "Relato de Um Homem de Bom Coração" e até mesmo a que dá nome ao álbum, ao lado de canções que possuem aspectos totalmente pop como "Nesse Lugar" e "Não Leve a Mal".
Revanche é o álbum em que a banda mais foi feliz com suas baladas, principalmente em "Porto Alegre" e "Deixa o Tempo", sem deixar de lado a excelente pop rock "Eu Sei", que pode ser colocada como uma das melhores canções da banda quando falamos em qualidade unida à aspectos comerciais.
A verdade é que se fosse gravado de forma totalmente independente, "Revanche" teria a sonoridade que foi concebida no EP "Cemitério das Boas Intenções", que se aproxima do rock industrial.
4° - "Sua Alegria Foi Cancelada" (2019)
Mesmo sem ter uma turnê de divulgação finalizada devido a pandemia de covid-19, "Sua Alegria Foi Cancelada" é um dos álbuns mais importates da carreira da banda, pois graças a ele, de forma independente, o grupo alcançou boa exposição na mídia, como há anos não conseguia.
O disco trouxe uma sonoridade diferente ao grupo, com os sintetizadores ditando as regras e também com muitas inserções de baterias eletrônicas e efeitos modulados de forma artificial.
Mas se engana quem pensa que as guitarras ficaram para trás, já que faixas como "We'll Fight Together", "Natureza Caos" e "Convicção" possuem riffs marcantes e que se aproximam bastante do que a banda propos em projetos como "Cemitério das Boas Intenções" e "Revanche.
As lentas "Sua Alegria Foi Cancelada", "De Verdade", "Quando Eu Caí" e "O Arrocha Mais Triste do Mundo", são as responsáveis por ditar os temas do disco, que sem dúvidas, é o mais melancólico de toda a carreira da banda.
É impossível falar deste projeto sem citar a Quarentemo, série de lives feitas pela banda durante e pandemia e que ajudaram muito na divulgação e proliferação deste trabalho, colocando a banda em um outro patamar de relevância à nivel nacional.
A maior prova de que os caras encontraram meio termo de fazer rock e música pop com qualidade no mesmo disco, é "Cada Acidente", que na minha opinião, é a melhor faixa do álbum e que conta com a participação do trio Tuyo.
3° - "Ciano" (2006)
Este talvez seja o mais emblemático álbum da banda. Foi com este disco que conseguiram profissionalizar o trabalho e pela primeira vez gravaram todo um projeto de forma conceitual, com real conhecimento do que estavam fazendo.
Foi ele o responsável por imortalizar "Quebre As Correntes", que teve massiva exposição na MTV, e por apresentar até hoje os melhores riffs de guitarra da história da banda como "O Que Hoje Você Vê" e "Cada Poça Dessa Rua Tem Um Pouco de Minhas Lágrimas".
Além disso, possui duas músicas com letras e estéticas pop, mas que não soavm nem um pouco massivas: "Absolutamente Nada" e "Alguém Que Te Faz Sorrir", esta última com uma versão horrorosa gravada no álbum Redenção.
Todas as músicas falam sobre questionamentos referentes ao mundo e dramas românticos, mas em "Infância", Lucas disseca todos os traumas que sofreu durante seu período no colégio e oferece uma letra forte e que se torna deprimente dependendo do humor e do clima do ouvinte.
2° - "Infinito" (2012)
"Infinito" é o primeiro trabalho da banda após a saída de Rodrigo Tavares, que durante os anos em que o grupo esteve em maior exposição midiática, foi a principal cara da banda ao lado do vocalista Lucas Silveira.
Sem dúvidas, o álbum apresenta a melhor sequência de faixas da história da banda: "Homem Ao Mar", "Infinito", "Maior Que As Muralhas", "O Resto É Nada Mais (O Sonho de Um Visconde)" e "Diga, Pt. 2".
Os principais destaques do projeto são as orquestrações feitas por Lucas Lima e a maturidade das letras, que juntos, formam o primeiro álbum realemente conceitual de toda a carreira da banda.
"Farol" também é uma música que merece destaque e não pode ser deixada de lado, por todo o aspecto minimalista que tem em meio a grandiosidade de arranjos de cordas. Ela tem seu charme e se destaca somente por sua simplicidade sofisticada.
"Infinito é um álbum para sempre e que mesmo lançado há dez anos, envelheceu muito bem e continua conversando com a atualidade da banda, mesmo que as propostas tenham mudado um pouco com o passar do tempo.
1° A Sinfonia de Tudo Que Há
Por fim, este trabalho consolidada toda a trajetória da banda, com letras maduras, que permeiam entre assuntos que abordam principalmente saúde mental. Não é exagero categorizar o álbum como uma ópera rock, já que ele era para ser a trilha sonora de um musical e possui todos os aspectos necessário para se encaixar neste gênero.
O álbum é impecável em relação aos arranjos de cordas que estão em praticamente todas as faixas e em muitos momentos, são os responsáveis por acompanhar a música de forma absoluta, com a banda toda parando para dar espaço à orquestra.
Todo o aspecto conceitual e artístico é perfeito e letras como "Abrace Sua Sombra", "O Ar" e "Poeira Estelar" estão entre as melhores de toda a carreira da banda, sem sombra de dúvidas. A participação de Caetano Veloso em "Hoje Eu Sou Trovão" é monumental e proporciona ainda mais peso ao aspecto do álbum
Não há qualquer tipo de respiro no álbum, somente com a faixa final, "Canção Desastrada", que finaliza muito bem toda a atmosfera densa criada pelas letras e orquestrações neste disco, que não tem nenhuma carta fora do barallho, pois cada elemento que está presente nas canções sintetiza e convesa muito bem com tudo o que foi proposto. É um álbum realmente perfeito.
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