Repercuti, primeiro duo de percussão de Pernambuco, formado por Emerson Coelho e
Emerson Rodrigues – mais conhecido como Pequeno –, lança o primeiro álbum da
carreira de seis anos. Disponível nas plataformas digitais, O Som das Baquetas teve
apoio do Rumos Itaú Cultural 2019-2020 e reúne seis composições inéditas assinadas
pelos músicos locais Amaro Freitas, Beto Hortis, César Michiles, Henrique Abino e Laís
de Assis, além do próprio Repercuti, que criou uma das faixas. Neste disco, seus
criadores imprimem o trabalho que desenvolvem na música instrumental, superando o
desafio de unir a percussão sinfônica em diálogo com instrumentos afro-brasileiros.
O lançamento presencial de O Som das Baquetas está marcado para o dia 18 de
outubro, às 19h30, no Teatro Marco Camarotti, do Sesc Santo Amaro, em Recife (PE).
Os ingressos estão à venda na plataforma Sympla. O trabalho foi gravado e mixado no
Estúdio Carranca, a direção geral é do baiano Aquim Sacramento, professor da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), e a produção é de Tainá Menezes. Já o styling
(moda) é de Zarina Moda Afro.
O disco
Uma das composições do disco é Chick Corea Forever. Escolhida como single do álbum,
é uma obra do pianista Amaro Freitas em homenagem ao também pianista norte-
americano Armando Anthony “Chick” Corea, morto em 2021. Nela, o músico Henrique
Albino assina o arranjo da obra, na qual criou uma separação de vozes explorando as
regiões graves e agudas dos instrumentos, distribuindo entre quem faz o
acompanhamento e o solo, um diálogo de timbres.
Pequeno toca uma marimba de cinco oitavas e Emerson Coelho, um vibrafone, com uma tecla a mais: o Mi grave.
A única música criada pelo duo Repercuti é a faixa-título, O Som das Baquetas,
acrescida da expressão Ihin orun, que significa “O som do ferro”, em iorubá, fazendo
menção aos ritmos afro-brasileiros. Influenciada por compositores como John Cage e o
minimalista Steve Reich, traz compassos mistos e defasagens rítmicas. Tem efeitos
criados com ferro e com o arco. Como uma história contada por meio do som, os percussionistas dialogam entre si formando camadas sonoras, provocando e
chamando a atenção do ouvinte. Nesta, Emerson Coelho empunha o Vibrafone e
agogô triplo. Pequeno, a Marimba, bongô e china. Ambos tocam também o cowbell.
O álbum também traz chorinho com samba, como é o caso de Chorinho Bom, de Beto
Hortis, acordeonista experiente, por ter tocado com Dominguinhos, Camarão e Spok
Frevo Orquestra. Compôs várias valsas, frevos, recebeu prêmios em festivais pelo
Brasil e por Pernambuco, como o Recifrevo. Tem concertinos para acordeon e
orquestra de câmara e foi arranjado pelo diretor musical do SaGrama, Sérgio Campelo.
Na música, Emerson Coelho toca Vibrafone e pandeiro e Pequeno Marimba, tamborim
e surdo. As demais composições encontradas no disco são Pakiparabaki, de Henrique
Albino, Anjo Negro, César Michiles, e Nó de Imbuia, de Laís de Assis.
A principal característica de O Som das Baquetas é a de ser voltado para a música
instrumental executada com qualidade técnica e criatividade, dando liberdade aos
artistas para esta experiência de compor e improvisar em diversas linguagens.
“Priorizamos compositores que fazem música instrumental com excelência. Optamos
por deixá-los bem livres”, explica Coelho. “Apenas comunicamos o que tínhamos de
instrumentos para serem usados e eles ficaram livres para escolher o caminho estético
a seguir, trazendo para o álbum o que julgaram ser mais interessante.”
Emerson Rodrigues comenta a oportunidade de fazer um trabalho autoral, por ser
desafiador atuar em percussão no Brasil. “É um projeto em que a gente pode fazer do
jeito que quis, de se colocar no lugar de um criador e dar uma identidade à nossa arte,
para que possamos inspirar outras pessoas.”
O Repercuti
Criado em 2016, quando seus integrantes cursavam o Bacharelado em Percussão
Erudita na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Repercuti fez sua estreia na
Semana da Música, evento promovido pela Universidade, na Capela do Convento de
Santo Antônio, na cidade de Igarassu. A ousadia em inovar em um formato incomum
para a percussão segue como diferencial: trata-se do primeiro duo de percussão criado
e em atividade em Pernambuco.
Com trajetórias musicais semelhantes, Coelho e Rodrigues uniram-se pelo desejo de
refletir sobre a prática artística no vasto universo dos instrumentos percussivos, ainda
desconhecido pelo grande público. O foco do trabalho é o estudo de obras de
compositores variados, buscando experimentar sonoridades dentro do diálogo entre a
percussão erudita e a percussão popular.
O primeiro contato com a música, no entanto, chegou para os artistas de maneiras
distintas. Pequeno foi aluno da Orquestra Criança Cidadã, onde teve as primeiras aulas
de música e iniciou sua trajetória artística. Coelho, desde a infância teve contato com
os ritmos populares e as tradições afro-brasileiras.
“Em 2016, a gente adotava na UFPE o repertório individual e o de grupo. Havia aquela
vontade de explorar outras possibilidades, como o formato duo”, conta Pequeno.
“Grupos grandes são mais trabalhosos. O foco precisa ser o mesmo e é muita gente
para administrar. Sempre fui mais voltado à percussão erudita, desde que iniciei lá na
Orquestra Criança Cidadã”, diz. “Coelho traz o erudito, mas também a percussão da
rua, do maracatu. É mais solto no improviso. Fomos estudando juntos naturalmente,
trabalhando nossa criatividade. Aos poucos, sentimos a necessidade de nos
apresentarmos como duo.”
Desde então, o Repercuti participou de dezenas de festivais pelo Nordeste, concertos e
espetáculos como o Baile do Menino Deus, tradicional musical encenado há 18 anos no
Marco Zero do Recife. Para o duo, foi criada uma cena própria em 2018. No ano
seguinte, 2019, a dupla foi selecionada para integrar a programação de Espetáculos
Musicais do Espaço Cultural BNDES / Temporada 2019-2020, no Rio de Janeiro.
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