Há um pouco mais de quatro décadas, a poeta, compositora, cantora e instrumentista carioca Denise Emmer conquistou o país com a canção “Alouette”, tema da novela “Pai Herói” (1979), da TV Globo. Tocada em emissoras de rádio de todo o país e lançada no ano seguinte em compacto simples, a canção romântica em francês alcançou a marca de 300 mil cópias vendidas, rendendo um Disco de Ouro e participações na TV, como no programa “Fantástico” (TV Globo). Nascida em uma família de artistas, seus pais, os escritores Janete Clair e Dias Gomes, e seus irmãos, os músicos Alfredo e Guilherme Dias Gomes, Denise já despontava precocemente, na adolescência, também na literatura com seu primeiro livro “Geração estrela” (Paz e Terra, 1976), com prefácio de Moacyr Félix e preparando seu sucessor, “Flor do milênio” (Civilização Brasileira, 1981), com texto de orelha assinado também pelo saudoso poeta. Naquele momento, Denise Emmer negou trilhar o fácil caminho do sucesso imediato - gravadoras, produtores e empresários insistiam na carreira de intérprete em francês nos moldes de “Alouette” – e decidiu criar identidade própria, tanto na música quanto na literatura, publicando, até os dias de hoje, 22 livros e lançando uma discografia robusta que chega às plataformas digitais a partir de setembro, assim como o single inédito “Setembro Antigo”.
Os discos “Pelos caminhos da América” (1980) e “Mapa das Horas” (2004) já se encontram nos canais de streaming – até outubro serão lançados ainda seu LP de canções autorais “Canto Lunar” (1983) e o CD Cinco Movimentos e um Soneto (1995), com poemas de Ivan Junqueira musicados pela artista. Além destes, a cantora e instrumentista resgatou um álbum totalmente inédito, gravado em 1992, porém não lançado na época. Musicando seus próprios poemas publicados no livro “Canções de acender a noite”, o disco “Cantiga do verso avesso”, já disponível nas plataformas, contou com arranjos de Alain Pierre e violoncelo de Jaques Morelenbaum – ambos parceiros constantes em toda a discografia de Denise – além da participação da própria artista na flauta doce, teclado e vocais. Com forte influência da música renascentista e ibérica, o disco traz letras autorais e uma faixa escrita no Português antigo do século XV: “Aquestas manhãnas frias”, cujo instrumental se destacam a viola da gamba, a flauta doce, o alaúde, violões e vocais que remetem a madrigais. “Ao escutá-lo hoje, tive uma grata surpresa por redescobrir, naquele disco, aquelas canções gravadas há quase três décadas, mas que não perderam o valor melódico e poético”, revela Denise. Destaque também para as faixas “Casa da infância”, “Cantiga da estrela barca”, “Cantiga da noite mágica”, “Canção do inverno”, “Gira noite” e “Cavaleiro do Rio Seco”, uma homenagem ao compositor e cantor Elomar.
O ímpeto em revisar tantos anos de carreira musical – também integra, desde 2001, como violoncelista, a Orquestra Rio Camerata bem como quartetos de cordas, trios e outras formações camerísticas – rendeu novos frutos, como o single “Setembro Antigo”, composto a partir do poema de Álvaro A. de Faria. Com a participação dos antigos parceiros Alain Pierre (arranjo, violões, teorba, vocais) e Jaques Morelenbaum (violoncelo), trata-se de uma canção em tom maior, que remete ao final a um grande coro e fala de uma busca por si mesmo. “É uma canção mágica que surgiu de uma inspiração pura e espontânea..a melodia surgia em minha mente de tal forma que corri para o piano para escrevê-la”, comenta a artista. Nas palavras da artista, a música “sugere alguma alegria e esperança em meio a todo esse momento sombrio de tanto desalento e perdas... O Setembro como uma metáfora de bonança e jardins, após um grande período de escuridão e descrença”. O single ganhou também versão em videoclipe, já disponível no YouTube, e despertou a artista para novas composições e novos trabalhos.
Atividade sempre desempenhada em paralelo às canções, a Literatura alçou Denise Emmer aos mais elevados patamares da profissão, recebendo muitos prêmios e com publicações também em Portugal, traduções na Espanha, Turquia e EUA. Seu quarto livro, “A equação da noite” é um divisor especial para a poeta, quando assume própria dicção e cria poesias sobre as grandezas maiores do amor e da morte, como consequência de grandes perdas. Seu livro “Invenção para uma velha musa” (Ed. José Olympio) lhe rendeu dois importantes prêmios: Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) e Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. Além destes, abrilhantaram ainda o seu currículo os prêmios José Marti de Literatura (conferido pela Casa Cuba Brasil-UNESCO), o Prêmio Nacional de Literatura do Pen Clube do Brasil (Poesia e romance) e o Prêmio ABL de Poesia 2009 com o livro “Lampadário” (Ed. 7Letras), dentre outros.
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