Em “Marulho”, trabalho de estreia solo do multi-artista Antonio Sobral, ele faz um mergulho da bossa ao experimentalismo, do ambient ao punk, da eletrônica ao indie. Um dos destaques estéticos e poéticos é a instrumental “Eu te amo”, que ganha um vídeo retratando uma viagem transoceânica. O vídeo pode ser visto no canal do YouTube do artista.
“‘Eu te amo’ foi composta durante a pandemia, inspirada no amor de um casal que se viu geograficamente separado. Na primeira parte da faixa é retratada a espera, entre ruídos e melodias soltas; na segunda, a bateria e o baixo entram, marcando cinematograficamente o tema da redenção pelo encontro. O clipe foi realizado com imagens que fiz numa travessia do oceano Atlântico em veleiro: desoladas ilhas do Cabo Verde, a imensidão do oceano e a luminosa chegada ao nordeste do Brasil”, conta Sobral, que uniu as imagens da solidão marítima com Super-8s de cavalos se amando na neve das montanhas, filmadas no interior da França pelo artista.
As idas e vindas e o balanço das ondas estão no DNA de todo o projeto. Não por acaso, o título do álbum faz referência à constante impermanência - ou à permanente inconstância - das águas do mar. Um movimento incessante, ainda que muitas vezes possa ser imperceptível, está no cerne dessa ideia, que inclusive estampa a capa. A arte é uma ilustração de Powerpaola que mostra o artista se desfazendo em água, ondas e espuma.
A estreia solo celebra o seu próprio movimento: há 8 anos, Antonio trocou sua vida em Berlim por uma vivência na serra fluminense, onde se dedica à agroecologia e à produção cultural, no território rural de São José do Vale do Rio Preto, fazendo a curadoria da Residência São João.
Ele trouxe para este trabalho sua formação em Cinema e uma trajetória multimídia, passeando pela música, poesia, vídeo e artes visuais. Após ter a obra exibida em mostras internacionais, museus, galerias de arte e espaços independentes, assumiu a curadoria da Residência São João. O seu projeto musical anterior, Los Pajaritos, em parceria com Antonio Farinaci, chamou atenção da imprensa especializada e lotou a casa de shows Blue Note, em São Paulo.
Por fim, “Marulho” apresenta um novo caminho, solo, embora sua construção tenha sido feita a muitas mãos. Surgem no álbum variados trajetos possíveis e Antonio abraça cada um deles, caminhando a linha tênue entre o jazz brasileiro e o ruidismo experimental, costurando narrativas sensoriais e poéticas. O trabalho está disponível em todas as plataformas de música digital pelo selo Desmonta.