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Rommel de volta às raízes e com pé na estrada

Foto do escritor: Guilherme MoroGuilherme Moro

Lançado em 2021 o álbum “Karawara”, o sexto de Rommel, renova seus sentidos na série de cinco vídeos que o cantor e compositor lança em seu canal do YouTube. Em cada um deles, o artista, que vive no Canadá há 16 anos, visita uma canção do disco, acompanhado apenas de seu violão, tendo como cenário sua São Luís natal. Ou seja, “Karawara”, construído sobre a ideia de ancestralidade, ganha outra força ao pousar em seu chão — as raízes do próprio Rommel, com as canções no formato cru em que foram concebidas.



Gravados ao ar livre, como manifestando o desejo de recuperar o horizonte amplo que nos foi roubado em grande medida com a pandemia, os vídeos se afinam com a volta do artista à estrada. Depois de ficar dois anos longe do público, Rommel levará “Karawara” (lançado numa apresentação virtual no ano passado) aos palcos, numa agenda ampla que começou em abril na Alemanha e passará ainda por Havana, Nova York (num show no tradicional Lincoln Center, abrindo para a cantora Céu) e cidades do Canadá como Montreal e Toronto (veja agenda completa no fim do texto). Entre outubro e dezembro, o artista estará no Europa e no Brasil (em breve as datas serão anunciadas).

Em meio ao lançamento dos vídeos gravados em São Luís e da turnê, Rommel prepara ainda um novo projeto, sem data de lançamento prevista: Web Duets. São 22 músicas ínéditas, gravadas em áudio e vídeo, em duetos do artista com 11 convidados — ou seja, dois encontros de Rommel com cada um deles.


As gravações na capital do Maranhão — com direção de Taciano Brito e produção de Ana Furlaneto — têm um significado especial para Rommel. Foi em São Luís que sua relação com a música teve início, ainda criança, dentro de casa. A música está em sua família há gerações:

— Um dos meus avôs tocava violino em Guimarães (interior do Maranhão). Era o músico da cidade, se apresentava no aniversário da cidade, eventos da prefeitura, carnaval, São João… — conta Rommel. — Meu outro avô era baterista. Minhas duas avós cantavam, assim como minha mãe, que nos educava com muita MPB, usando as letras de Gil e Caetano. Meus tios e tias tocam violão. E meu pai dava aulas de música pra mim e pra minhas irmãs desde meus seis anos.

Nas apresentações nas reuniões de família, Rommel foi ganhando prática que, a partir dos 14, aplicou tocando na noite — sua primeira escola fundamental de música. Na mesma época, começou a participar de festivais na escola com suas primeiras composições. Aos 19, lançava seu primeiro disco, “Transcendental”, e se mudava para o Canadá — sua família tem uma longa relação com o país da América do Norte, e na época sua mãe morava lá.

No caminho entre “Transcendental” e “Karawara”, Rommel ampliou os conhecimentos musicais apreendidos na escola da noite. Tocou com músicos de diversas nacionalidades em grupos como o People-Project, ganhou prêmios (como o “Grande Revelação” no Festival Nuits d’Afrique), abriu o show de Gilberto Gil no Festival de Jazz de Montreal e estudou em instituições como a University de Liverpool e a Berklee College of Music.

“Karawara”, a canção que dá nome ao disco, lista nomes de povos indígenas — num clamor por outras sabedorias num momento em que a chamada civilização se mostra em crise, sob a égide do aquecimento global e do coronavírus. Guiado por ela, o artista compôs as outras 11 faixas do álbum, no mesmo espírito da busca do essencial, da ancestralidade.

O vídeo da canção “Karawara” que Rommel lança agora foi gravado na região do Mangue Seco, em meio à vegetação característica:

— São Luís é mangue para todos os lados — conta Rommel. — Desde moleque, eu ficava louco de ver a maré subir e descer, ver aquelas raízes irem no fundo da terra e saírem para buscar o ar. Isso está na minha música. E acaba sendo uma referência também a Recife, do mangue beat e de artistas como Lenine, influências pra mim.

O Mangue Seco também serviu de locação para o vídeo de “Gelo e Brasa” (Rommel/ Enrico Lima), com a ambiência de folhas e redes balançando ao vento. Na mesma região, foi filmado o ijexá “Agô” (Rommel/ Enrico Lima/ Vovô Saramanda), de celebração aos orixás. Mas em outro cenário, na beira d’água, com os prédios de São Luís longe, ao fundo. “É a imagem do meu refúgio ali, minha cidade e meu violão”, comenta o compositor. Parceiro de Rommel na canção, Vovô Saramanda, percussionista baiano radicado no Canadá, foi um interlocutor central para o cantor na construção do álbum, por seus saberes sobre as tradições afrodiaspóricas.

O reggae “Vai brotar da terra” (Rommel/ Enrico Lima/ Fernando Moreno), com discurso contundente de defesa do meio ambiente, é cantada tendo como fundo sobrados históricos de São Luís. Assim como no disco, a gravação tem a participação do gaitista Ricardo Foca.

“A-cor-de-composição” (Rommel/ Enrico Lima), declaração de amor ao ato de compor cheia de intrincado jogos de palavras, também tem um convidado — Fernando Spotti, que arremata a canção com um rap.

— Essa a gente gravou na Fonte do Ribeirão — conta Rommel. — As igrejas de São Luís são todas ligadas pelos túneis subterrâneos que saem da Fonte do Ribeirão. E há a lenda de que ali vive uma serpente encantada gigantesca, adormecida.

A ancestralidade de “Karawara” encontrando sua casa, portanto.


AGENDA:

27 DE MAIO – HAVANA WORLD MUSIC FESTIVAL – HAVANA, CUBA

28 DE MAIO – LA GUARIDA (HWMF2022) – HAVANA, CUBA

10 DE JUNHO – GLOBAL TORONTO – TORONTO, CANADÁ

16 DE JUNHO – JARDINS GAMELIN – MONTREAL, CANADÁ

17 DE JUNHO – ZONE MUSIQUE, PLACE D’ARMES – MONTREAL, CANADÁ

24 DE JUNHO – SÃO JOÃO (VIRTUAL CONCERT) – MONTREAL, CANADÁ

6 DE JULHO – BRASIL SUMMERFEST, LINCOLN CENTER – NOVA YORK, USA

8 DE JULHO – BRASIL SUMMERFEST, NUBLU – NOVA YORK, USA

29 DE JULHO – HURON ISLAND TIME - MANITOULIN ISLAND, CANADÁ

5 DE AGOSTO – PARC LA FONTAINE – MONTREAL, CANADÁ

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