Neste sábado (8), o João Rock 2024 levou mais de 70 mil pessoas ao Parque Permanente de exposições, em Ribeirão Preto. Foram mais de 30 shows divididos em quatro palcos.
No palco João Rock, as principais atrações foram Samuel Rosa, Os Paralamas do Sucesso, Detonautas, Emicida & Pitty e CPM 22. No Aquarela, dedicado somente às mulheres, Marina Lima, Tássia Reis e Duda Beat comandaram o line-up, enquanto no palco Brasil, célebres nomes da música brasileira como 14 Bis, Ney Matogrosso, Novos Baianos e Djavan abrilhantaram a estrutura do palco, baseada na bandeira do Brasil.
Nem mesmo o cancelamento de última hora do show de Lulu Santos por questões de saúde tirou o brilho do palco Brasil, que vamos abordar em breve neste texto.
No palco Fortalecendo a Cena, nomes do trap e do rap nacional foram os protagonistas, entre eles, Teto, Riu, Veigh e Ebony. A rapper concedeu entrevista ao Música Boa poucos minutos após subir ao palco e falou sobre a cena de modo geral.
"Essa movimentação que os festivais têm feito de dar espaço para o rap é fundamental. Nós não cabíamos em lugar nenhum. Era uma música vista como pouco intelectual. Ver nosso som chegando em grandes eventos, com o público interessado em ouvir, é lindo", comemora Ebony.
No palco João Rock, os Detonautas apresentaram a turnê acústica, que está rodando o Brasil a fim de divulgar o álbum desplugado que lançaram no ano passado.
A escolha da banda para encerrar a tarde do festival foi perfeita, já que o grupo, extremamente ensaiado, conseguiu emocionar o público com seus hits e surpreenderam com um ótimo cover de "Um Sonhador', da dupla sertaneja Leandro & Leonardo.
Um dos shows mais esperados da noite, Samuel Rosa começou seu setlist com "Vamos Fugir" e embalou uma sequência de sucessos do Skank, até chegar na execução de "Segue o Jogo", primeiro single de seu álbum de estreia como solista, que será lançado no final deste mês.
Alguns internautas criticaram o cantor por basear o repertório de seu show, quase que em sua totalidade com canções do Skank. No entanto, é importante relembrar que praticamente toda a obra escrita por Samuel Rosa foi dedicada à banda. Sua carreira solo ainda não tem novos trabalhos. Com o tempo, as canções do Skank vão diminuir do repertório.
Samuel Rosa ainda relembrou o feat que fez com o Ira!, na canção " Tarde Vazia", no acústico MTV do grupo paulistano, em 2004. Na execução ao vivo da música, o cantor e compositor resgatou o arranjo da gravação original da banda.
Logo em seguida, Os Paralamas do Sucesso subiram ao palco ao som de "Vital e Sua Moto" para iniciar um dos melhores shows de todo o festival.
A união de Hebert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone forma um peso inacreditável no palco. Para mim, que nunca tinha assistido aos Paralamas ao vivo, foi algo surpreendente. A cozinha de Bi e Barone formaram a sustentação necessária para a guitarra de Hebert tomar às frequências agudas da apresentação.
O público foi delírio quando Samuel Rosa voltou para dar uma canja em "Lourinha Bombril" e dividiu os vocais com Hebert. O show ainda contou com os hits "Aonde Quer Que Eu Vá" e "Lanterna dos Afogados".
Figurinha carimbada no João Rock já há muitos anos, o CPM 22 também esteve presente na edição 2024 e cantou, além de seus clássicos, músicas do mais recente álbum, "Enfrente", que chegou às plataformas no início de maio.
O grupo é um dos mais longevos e sua geração e, em entrevista ao Música Boa, Badauí, vocalista e principal letrista, falou sobre as dificuldades de se manter na ativa após tantos anos de estrada.
"Por mais que a gente tenha um público muito sólido, o que nos mantém na ativa é o amor pelo trabalho e o profissionalismo, além das músicas. Quando continuamos lançando coisas boas e letras que falem a verdade de quem vive a banda, a probabilidade de atingir as pessoas é muito maior. Mas isso não significa que o jogo está ganho. Se a dificuldade é grande para nós, imagina para ótimas bandas do underground. Sempre procuro divulgá-las. No geral, se manter relevante é mais fácil quando se faz tudo com verdade", disse poucos minutos após o show.
Apesar da enérgica apresentação, a mixagem do show ficou muito abaixo das demais bandas, onde a voz do Badauí encobriu o instrumental. Infelizmente, o fato comprometeu o show, que seria muito melhor não fosse o problema técnico.
Palco Brasil
Claro que seria humanamente impossível esta reportagem acompanhar todos os shows que o festival proporciona, então estou escrevendo somente das apresentações que pude assistir.
No palco Brasil, o 14 Bis emocionou cantando clássicos da música brasileira, com uma levada mineira que só esta geração de artistas consegue transmitir.
O grupo é um dos mais longevos do país e mantém os mesmos integrantes que quando foi criado, no final da década de 70, somente com a baixa de Flávio Venturini, que se despediu do 14 Bis em 1988.
Sobre a longevidade, Sério Magrão (baixista) comentou sobre os segredos que fazem a banda estar há tantos anos na ativa.
"Estamos chegando aos 45 anos de carreira. O que nos mantém unidos, é a estrada, porque somos um grupo que realmente gosta de se apresentar. Estamos chegando aos 3 mil shows e gostamos muito do que fazemos. Além disso, existe uma amizade e um respeito muito grande entre nós".
Também marcaram presença no palco Brasil, os Novos Baianos, representados por Baby Consuelo, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes, em um show celebrando os 50 anos de "Acabou Chorare", que foi recentemente indicado como um dos 300 maiores discos da história pela revista norte-americana “Paste Magazine".
Em entrevista coletiva após o show, os baianos exaltaram a publicação feita pela revista e, principalmente a obra que realizaram ao longo dos anos. “Eu acho que quem mais ganha com isso é o nosso público, já que a gente está deixando aí um legado para quem quiser aproveitar. Quer ser músico brasileiro? Mergulhe na música dos novos baianos, mergulhe nas raízes brasileiras”, afirmou o guitarrista Pepeu Gomes.
"Os pais se preocuparam em levar nossas músicas para essas crianças. A galera sente uma onda na gente, por toda a nossa história de morar juntos e isso cria uma identidade. Temos um lado rock and roll e isso é uma loucura", finalizou Baby Consuelo.
O palco foi encerrado com um oceano de pessoas assistindo ao show de Djavan, quase como um culto à música e à obra de uma dos maiores cantautores de nossa história.
O artista cantou todos os seus principais sucessos e fez um bloco acústico durante a apresentação, que ficou ainda mais intimista, apesar do grande público que acompanhava.
Com isso, fim do João Rock 2024, que hoje, sem dúvidas, é o festival mais roqueiro, brasileiro e musical do Brasil. Entre tantas coberturas que fazemos anualmente no Música Boa, poucos festivais tem uma curadoria tão relevante e uma produção tão impecável como o João Rock.
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