No possível ano eleitoral mais tenso de toda a história do Brasil, a arte tem como papel protestar, defender e deixar bem claro de que lado está. Não poderíamos esperar outra coisa do grupo Inocentes, liderado pelo emblemático Clemente Nascimento, que lançou o EP "Queima", nesta quinta-feira (28), com recados bem claros e reflexões importantes.
Se engana quem pensa que a faixa-título, "Queima", só fala sobre política. Isso porque a canção aborda, em um contexto geral, temas que indagam todos os cidadãos do Brasil e do mundo, mas claro, fazendo uma clara crítica ao extremismo que se espalha ao redor do globo.
Completando o "lado b" do EP, que se fosse lançado há 40 anos atrás seria um compacto simples, temos a divertida "Vou Ouvir Ramones", uma faceta diferente abordada pelo grupo de punk rock paulistano. Quem assume os vocais da canção, é o guitarrista Ronaldo Passos, que também assina como compositor da faixa. Segundo o próprio Clemente, Ronaldo tem uma facilidade em ploriferar um humor ácido, coisa que ele não conseguiria fazer.
Apesar dos temas entre as duas músicas componentes do EP serem distintos, uma coisa em específico unem as duas obras: o resgate da sonoridade punk rock paulista que fez e faz a cabeça do Inocentes até hoje. As duas faixas são de fato intensas e podem ser consideradas verdadeiras pancadas.
Para se ter uma ideia, as duas músicas, quando juntas, não ultrapassam quatro minutos de duração. Quem tem o mínimo conhecimento sobre punk rock, sabe que músicas longas não são características do gênero. Isso só mostra que quando o recado é bem dado, não é necessário estender a mensagem. É como diz o ditado: para bom entendedor, meia palavra basta.
"Queima" veio pra mostrar o quão importante é para a cultura brasileira, ter uma banda como o Inocentes ativa e mais viva do que nunca. É o tipo de banda que fala o que está bem debaixo de nossos olhos, mas não conseguimos ver, ou fingimos que não vemos para não acreditar.
A sonoridade visceral do trabalho também tem os méritos de Michel Kuaker, produtor musical aclamado e reconhecido por artistas da cena.
Não poderia deixar de citar que o EP também está disponível em NFTs, colecionáveis e que podem ser negociados. Uma prova de que, apesar do resgate, a banda segue se adaptando às novas formas de consumir e acompanhar a carreira de um artista.
E como o próprio Clemente afirmou: “O Inocentes está vivo e produzindo”.
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