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Foto do escritorGuilherme Moro

Indicado ao Grammy Latino em edições passadas, Thiago Ramil divulga seu novo álbum

“O Sol Marca o Andar do Tempo e a Imensidão do Universo Todo Dia” é o nome do novo projeto audiovisual de Thiago Ramil, músico representante da nova cena musical brasileira. O nome do álbum, vem da junção de quatro EP’s lançados pelo músico gaúcho. “O título deste álbum é a junção dos títulos dos quatro EP’s, que foram produzidos por quatro produtores diferentes. Eles vão se encaixando como se fosse um quebra cabeça. A capa foi feita por uma artista plástica de Porto Alegre que teve uma grande sensibilidade para fazer essa leitura. Unir todos esses produtores em uma unidade foi um desafio muito bom. Eu aprendi muito com eles", diz Ramil.



VERÃO - O disco inicia no Verão, sob as mãos da dupla gaúcha Felipe Zancanaro, músico e produtor musical, e Vini Albernaz, músico e “ilustranimador”. Ambos produziram o primeiro álbum de Thiago, o “Leve Embora” (2015), que teve indicação ao 17º Latin Grammy na categoria Melhor Álbum Pop Contemporâneo. Para ilustrar esta fase em imagens, Thiago convidou o coletivo de animação Ilha Maravilha (Vini Albernaz, Marcelo Gafanha e Alércio Pereira), que construiu um filme único para as quatro faixas. O trabalho tem como referência o desenho manual, folha a folha, o que dá uma dimensão analógica para a animação.

E abre com o samba desconstruído “Janela do Rosto”, parceria de Thiago Ramil e Thayan Martins (Curiosamente, é uma canção cuja letra não é dele, e sim dela, que é percussionista do grupo Três Marias e da banda Cachaça de Rolha). Os ares eletrônicos conduzem a canção de tom surreal em dueto vivo e provocativo. “Curiosamente, compus muito no cavaquinho nesta fase pandêmica e, aos poucos, fui encontrando meu jeito de fazer samba”, analisa. A segunda faixa é “A Pulga”, parceria com o poeta Jonas Samauma, criado à distância entre as praias de Bertioga (Jonas) e Tramandaí, onde Thiago tem passado o período de isolamento. A música remete a um samba clássico amparado por sintetizadores, beats e samples.

Já a terceira canção, “Acúmulo” (Thiago Ramil / Geórgia Macedo / Gutcha Ramil / Andressa Ferreira), com letra de Geórgia Macedo, tem forte referência nos questionamentos que Ailton Krenak faz quanto a ideia de sustentabilidade, no seu livro “Ideias para adiar o fim do mundo”. “É quase um vômito de atitudes surreais que o ser humano vive e prega: uma vida ideal com atitudes contrárias”, conta Ramil. “Manequim” fecha esta fase com um samba eletrônico de veia crítica, que alfineta a ditadura da beleza e o mito da virilidade masculina. A música encontra a beleza do simples refrão carregado de verdade: “Bonito é o que cada um tem: não ser igual a mais ninguém”. Thiago divide a faixa com a cantora, compositora e sambista Pâmela Amaro, também do grupo Três Marias.


(Foto: Divulgação)

OUTONOO álbum segue com três canções que têm como pano de fundo a memória e as lembranças. “É um recorte mais íntimo do álbum, nostálgico, que tem a ver com o andar do tempo mesmo”, explica o artista, que convidou para esta produção musical o amigo e vencedor do Grammy Guilherme Ceron e, para a direção visual dos quatro vídeos que reforçam as músicas, o diretor gaúcho Lucas dos Reis.

A faixa de abertura, “Receita”, é uma história real. Não há nada que traga mais identificação que as receitas de mãe ou a lembrança do cuidado ao cozinhar para o filho. A canção tem inserts de frases marcantes da lembrança de seu parceiro musical Gabriel Nunes (Cabeça) e suas, nas vozes de Gabriel e dos pais de Thiago. “A composição fluiu naturalmente quando estávamos preparando um jantar em São Paulo. Sempre me emociono um pouco quando escuto. Porque levanta temas pessoais e sociais, como a mãe que sai cedo para trabalhar deixando a comida pré-pronta e o filho que queria mesmo era sua presença”, conta Thiago, que também divide a composição com Geórgia Macedo e Samira Calais.

Já em “Cheiro de Chuva”, o clima vai esfriando, começam a cair as folhas e a paisagem se tornar avermelhada.... “É uma música com timbres amadeirados, com muitos violões e rabecas”, diz. O amigo de longa data João Ortácio lhe enviou uma harmonia no violão e ele foi construindo a letra: “Meu amigo / levo o começo comigo / até o final...”, diz um verso da canção. Para fechar a trilogia de outono, o disco desliza pelo tom marítimo de “Marujo” (parceria com João Ortácio e João Salazar); uma música tão envolvente que nos carrega suavemente pelas águas. É uma canção que fala sobre despedida, processos, o que vai e o que fica na vida. E é uma homenagem ao Aldir Blanc, que dá nome à lei que proporcionou a produção desta obra.

INVERNO – Daí o álbum parte para uma sonoridade invernal, com climas mais profundos e intensos nos arranjos e temas, sob produção musical de Pedro Dom, atualmente radicado em Los Angeles, e vídeos da artista visual Isabel Ramil. Inspirado num poema de Guilherme Becker, a primeira faixa, “Ser” (Thiago Ramil / Guilherme Becker / Pedro Dom), une os entes Ar e Mar e traz arranjos refinados para o violino e clarinete. A canção tem a participação do duo Alívio, formado por Guilherme e Bela Leindecker, no coro da canção. “É uma música com um tom mais erudito, cinematográfico, e foi totalmente criada à distância, com um oceano entre nós”.

“Gravidade” (Thiago Ramil / Pedro Dom) foi composta há 10 anos, inicialmente em inglês e usada em alguns espetáculos do grupo multidisciplinar Afluência, que Thiago faz parte. Ele e Pedro refizeram o arranjo e a letra para português, e a música foi resgatada do baú de Ramil. “A música fala sobre a força da relação filho-mãe, mas também investe em outro caminho que acho muito bonito, a relação limite-potência que temos com a gravidade. Ao mesmo tempo que ela nos dá, ela nos tira. Nos tira a possibilidade de voar e nos dá a possibilidade de correr, ou existir”. E em “Roda” (Thiago Ramil), Thiago externa uma das forças motoras do disco, “o movimento, a circularidade, a translação, o todo, as estações”. A faixa conta com as texturas vocais de sua irmã Gutcha Ramil e a guitarra de Lorenzo Flach e foi inspirada em um garoto especial que o artista conheceu quando trabalhava como psicólogo em uma casa de acolhimento institucional. “A letra algumas vezes mistura o eu e tu, um reflexo dessa convivência, pois muitas vezes perde-se as fronteiras quando nos relacionamos de forma afetuosa com alguém”.


PRIMAVERAA fase final do trabalho traz os ritmos da primavera, com cores vivas e som pulsante, com influências afro-latinas capitaneadas pela produtora Andressa Ferreira e expressadas pela arte visual de Guilherme Becker, ao captar os movimentos da bailarina Geórgia Macedo. A crescente canção “Voltar a Voar” (parceria com Geórgia) foi composta na estrada e trata de dois pontos importantes para Thiago hoje: O desejo de voar, de sair da condição pandêmica, e a importância de se incluir na natureza, tendo a imagem do pássaro como persona. “Às vezes o ser humano se acha separado, destacado da natureza, mas é importante perceber que fazemos parte desse todo”, sugere ele, que trouxe a viola de Ricardo Borges e as vozes da musicista Marissol Mwaba para a canção.

A faixa seguinte, “Das Oito às Oito” (Thiago Ramil / Ricardo Borges), mistura inspirações astrológicas e realistas. A canção constrói uma narrativa poética e forte ao espelhar as fases da lua ao movimento das pessoas que vivem a noite em suas rotinas. É a única música não-inédita do álbum, premiada no festival Nova Era, no início de 2020. A gravação teve a participação de Gutcha Ramil nos vocais e da produtora do álbum Andressa Ferreira nos coros, além dos músicos Tomás Piccinini (saxofone) e Sérgio Boré, tocando steel pan , um instrumento percussivo e melódico com metais.

Fechando o álbum, “Aroma de Romã” (Thiago Ramil / François Muleka / Jairo Pereira / Jady Hauani) traz uma pegada mais latina e alto astral ao trabalho, reforçando os tons abertos da primavera. “Eu estava passando uma temporada na casa do François em São Paulo e começamos a criar em grupo. Acho que é a faixa mais leve de todo o repertório e traduz bem a primavera, o amor e a paixão”, sugere Thiago, que confessa ter dificuldades de compor sobre o tema. “Acho que porque já há muitas músicas sobre amor na MPB, mas desta vez a canção ficou muito viva pra mim”, vibra ele, que também convidou os irmãos François Muleka e Marissol Mwaba para cantar junto na gravação.

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