Se hoje os versos “chega de mentiras, de negar o meu desejo, eu te quero mais do que tudo, eu preciso dos seus beijos” são cantados a plenos pulmões por fãs de diferentes gerações Brasil afora, isso é apenas uma amostra da importância de uma dupla de cantores que revolucionou a música sertaneja brasileira ao longo de 50 anos de existência. E que, para além do fenômeno “Evidências”, de 1989, produziu inúmeros clássicos do gênero, que geram identificação em uma legião de brasileiros. Para celebrar a trajetória de José Lima Sobrinho e Durval de Lima, os ídolos Chitãozinho & Xororó, e sua contribuição para a construção da cultura popular e da identidade nacional, a TV Globo exibe o especial ‘Chitãozinho & Xororó – 50 anos de história’, que vai ao ar no dia 1º de junho, após ‘Pantanal’.
Produzido pela equipe do ‘Conversa com Bial’ – time especialista em conteúdos imersivos -, com direção artística de Monica Almeida e direção geral de Gian Carlo Bellotti, o programa contará com diferentes e emocionantes momentos que conjugam entrevistas conduzidas por Pedro Bial com resgates inéditos, suportados por um rico material de arquivo, e musicais. “Tem algumas vertentes que seguimos, como uma parte de memória afetiva muito forte. Mergulhamos a fundo na pesquisa deles com fotos, histórias de família, de tudo o que se pode imaginar. Também traremos um musical acústico, mais intimista, ao redor de uma fogueira, em um papo delicioso com Bial, e um outro momento com uma apresentação grande e de muito significado: montamos um show num circo, que foi o espaço onde a carreira deles começou”, explica Gian.
“É um pouco musical, um pouco entrevista, um pouco documentário, mas, ao mesmo tempo, não é nenhuma dessas coisas convencionalmente. Utilizamos recursos desses gêneros para fazer um programa que é uma viagem no tempo, de 50 anos. Encontramos um jeito para tornar a música tão informativa e significativa para a história quanto o texto e as falas. Tudo é diversão e informação ao mesmo tempo”, define Pedro Bial. “Me emocionei muito, porque acho que todo brasileiro vai se identificar. Na verdade, é uma trajetória que funciona como espelho para o Brasil e para cada um de nós, como aventura coletiva, que é a construção de uma nação, e individual, com os nossos sentimentos”, acrescenta.
Chitãozinho & Xororó iniciaram a carreira no final da década de 60 e, no começo de 70, lançaram o primeiro álbum, “Galopeira”. A dupla, natural do Paraná, veio para São Paulo na esperança de construir solidez profissional com um estilo musical que se limitava, na época, ao campo. Com raízes na música caipira, representam a modernização do estilo ao incluírem, pela primeira vez, instrumentos como guitarra elétrica e banjo – o que configura uma transformação cultural ordenada à intensificação da industrialização agrícola, ou seja, à modernização da atividade rural. Deste modo, além de protagonizar “uma nova música sertaneja”, a dupla figura a história de milhares de brasileiros do campo e que viveram o êxodo rural.
Trata-se de um resgate profundo e sensível que promete identificação. “Acho que, assim como eu, todo brasileiro vai se emocionar ao ouvir as histórias e as músicas. É aquilo: ao ouvir um sucesso, impossível não pensar ‘onde eu estava e o que estava fazendo da vida?’”, destaca Pedro Bial.
“MEMÓRIAS”
Com gravações realizadas em maio no interior da cidade de Campinas, em São Paulo, o especial levou os cantores até uma casa caipira ambientada com elementos da trajetória deles, tanto pessoal quanto profissional. “Decoramos os cômodos com material da história deles. Tem muita foto de família, todos os discos, alguns ainda em fita cacete, os ingressos dos primeiros shows, enfim, bastante coisa. Fizemos uma vasta pesquisa, e foi emocionante ver como isso foi uma surpresa para eles. Ao entrarem na casa, foram descobrindo essas memórias nas paredes e nos objetos. Vi que deu certo quando o Chitãozinho ouviu ‘Galopeira’ no vinil, que foi a primeira música deles a fazer sucesso, e disse ‘acabei de lembrar do meu pai em casa ouvindo o disco pela primeira vez’”, coloca Gian.
O passeio pelas memórias da dupla é orientado por Pedro Bial, que aponta detalhes, como registros de família e de shows e pede para que eles relembrem as vivências por traz de cada material, o que proporciona momentos muito simbólicos, como a emoção ao verem uma foto antiga da mãe.
O espaço é ainda cenário da entrevista, em que compartilham lembranças de família, do início da carreira e têm uma conversa sobre a composição da música sertaneja – com interferências paraguaias, argentinas e mexicanas -, em especial as influências que permeiam suas criações. “Antigamente, as duplas cantavam corrido, era uma coisa mais mexicana. As músicas que tinham essa pegada cabiam muito bem no country. Mas, em vez de cantarmos corrido, pesamos mais no country. Fizemos isso num disco bem antigo, me lembro até que os músicos demoraram para entender o que a gente queria. A música ‘Ela chora chora’, do álbum ‘Fotografia’, foi a primeira do estilo country aqui no Brasil. Aí, alguns anos depois, entrou na moda. Comecei a usar chapéu e gravamos outros”, conta Chitãozinho.
Outros assuntos são a ascensão da música sertaneja a partir da dupla, já que foram os responsáveis por introduzir o estilo em veículos de massa; a origem do nome Chitãozinho & Xororó – antes eram Irmãos Lima -; as dificuldades do início de carreira, tocando em circos, entre outros temas.
AO REDOR DA FOGUEIRA
No momento mais intimista do especial, Chitãozinho, Xororó e Pedro Bial se sentam próximos de uma fogueira com a natureza ao redor. A conversa, agora, é musical, e aborda especificamente artistas que são parte da história da dupla. Apresentam, em voz e violão, acompanhados apenas de um acordeão, algumas músicas marcantes para a carreira, como “Correnteza”, de Tom Jobim e, pela primeira vez, “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas. Ao cantarem “Luar do Sertão” debaixo da lua cheia que iluminou as gravações, os três são tomados por uma forte emoção.
“A ideia do especial é uma conversa solta. Deixar os assuntos aparecerem, vir a emoção. Uma captação bem documental mesmo. Neste momento, a gente sente como se estivesse sentado com a dupla, participando da conversa e ouvindo de forma muito próxima a potência musical deles. A gente quis acessar a memória afetiva das pessoas. A fogueira é intima e o circo é lúdico”, diz Monica Almeida. “A parte da fogueira é mais acústica, as músicas são mais despidas. Nos emocionamos o tempo todo, acho que os fãs vão entrar nessa história com a gente”, acrescenta Xororó.
O CIRCO
O circo é um espaço que marcou o início da carreira dos artistas e, para completar a narrativa histórica, o especial promoveu um musical com a dupla retornando aos palcos onde tudo começou, e apresentando alguns dos grandes sucessos destes 50 anos, como “Galopeira”, “Sinônimos”, “Evidências”, “Brincar de Ser Feliz” e “Fio de Cabelo”.
“O circo era sobrevivência. O circo precisava de uma atração musical porque não tinha casting suficiente, e a gente precisava de espaço para cantar. Foi difícil, tocamos em circos entre os anos de 74 e 77, e foi o momento em que quase desistimos. A gente não ganhava dinheiro, era apenas o suficiente para pagar as contas”, relembra Chitãozinho.
“O circo é um momento nostálgico, mas é também de celebração. Levá-los onde tudo começou, sendo os artistas que são hoje, é como olhar para trás e comemorar com eles todas as conquistas. Tenho certeza de que o público cantará junto todas as músicas e participará desta festa conosco”, declara Monica Almeida.
O ‘Especial 50 anos Chitãozinho & Xororó’ tem direção artística de Monica Almeida, direção geral de Gian Carlo Bellotti e apresentação de Pedro Bial, e vai ao ar na TV Globo no dia 1º de junho, após ‘Pantanal’.
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