A Fresno lançou nesta sexta-feira (05), a primeira parte de "Eu Nunca Fui Embora", décimo álbum de estúdio desta que sim, é a maior banda do Brasil, pensando em um cenário atual. A segunda parte do álbum está prevista para o segundo semestre deste ano.
Já escrevi neste mesmo blog um post enumerando toda a discografia da banda, do pior ao melhor disco. O interessante é que mesmo o que considerei o pior disco da banda ("Quarto Dos Livros", lançado em 2003), no geral, é um trabalho conciso e com canções que marcaram vidas de muitas pessoas até hoje. Ou seja, a Fresno tem uma discografia excelente. Mexer neste acervo com um novo disco nunca foi algo temido pelos integrantes, que mantém a constância de lançamentos feitos a cada dois anos, tempo suficiente para as músicas caírem nas graças dos fãs.
Em "Eu Nunca Foi Embora", a banda inicia com a faixa que dá nome ao álbum e que já havia sido divulgada no final do ano passado como single. É uma canção que, tanto na letra, quanto no instrumental, lembra muito a Fresno do álbum "Redenção", lançado em 2008. No entanto, ela agrega tudo que o grupo vivenciou nos últimos anos, com uma presença mais marcante dos teclados e a evolução vocal de Lucas Silveira. O álbum prossegue com "Quando o Pesadelo Acabar", faixa com bateria eletrônica e presença marcante de sintetizadores. A letra aborda aspecto comuns nas letras de Silveira, como saúde mental. O destaque fica por conta de um riff de guitarra bem característico com os demais da banda, fazendo com que a música cresça muito no terço final.
A presença de guitarras com um swing interessante e típico do timbre de uma guitarra stratocaster têm sido mais frequente nos repertórios do grupo desde "Cada Acidente", lançada no álbum "Sua Alegria Foi Cancelada", de 2019. "Me And You (Foda Eu e Você), cumpre o papel de ser a música swingada do álbum. Tudo fica ainda mais dançante com a percussão sempre muito bem encaixada de Michelle Abu.
"Eu Te Amo / Eu Te Odeio (Iô-Iô)" talvez seja a música mais aguardada do álbum, por ser um feat com Pablo Vittar. O principal motivo disso desta empolgação por parte do público, era ver o artista pop em um ambiente mais voltado para o rock. Se essa era a expectativa do público, ela sim é suprida, mas de uma forma muito peculiar, com direito a citação da música "Io-Io", do Trem da Alegria no refrão, tornando a faixa impossível de não ser cantada. Os riffs de guitarra têm peso e a voz de Pablo acrescenta muito no tom sarcástico e até mesmo bem-humorado que a faixa oferece, o que não é nada comum em uma canção da Fresno.
Caminhando para o terço final do primeiro ato de "Eu Nunca Fui Embora", "Camadas" soa como uma mea-culpa que Lucas Silveira faz de todas as suas letras e canções de amor, afirmando que todos os seus amores possuem camadas, muitas delas, diferentes umas das outras. "Pra Sempre" tem o mesmo direcionamento, a partir de uma reflexão da vida adulta, sendo uma perspectiva que conversa com o que a banda tem vivenciado nos últimos anos. Mesmo com o tema direcionado para um assunto denso e sério como este, a faixa consegue soar comercial da perspectiva e tem um refrão que fica na cabeça, assim como várias deste disco. A Fresno vive o melhor momento da sua carreira. Nem mesmo quando integravam o casting da Universal / Arsenal e faziam mais de 20 shows por mês eles conseguiram tamanha a consistência de trabalho. Enquanto todas as bandas de sua geração desistiram no período de baixa do rock em geral, a Fresno seguiu em frente, acreditando na própria evolução, construindo fãs ainda mais apaixonados pelas músicas, tocando em locais menores e reaprendendo a ser uma banda operária, como eram desde o início. Para voltar ao topo, a Fresno não precisou de qualquer retorno de membros da formação que fez sucesso na década de 2000 ou de uma turnê celebrando os clássicos. A Fresno acreditou em sim mesma, no seu próprio som e no seu próprio trabalho. Lucas Silveira se tornou um dos maiores produtores musicais do Brasil e é um letrista de mão cheia. Vavo é o coração da banda, o cara que manteve a sanidade geral durante o período de queda após a saída da gravadora e Guerra deu sobrevida à banda e ajudou todo mundo a arrumar a casa.
Por esses e outros motivos, a Fresno, quer você queira ou não, é a maior banda do Brasil. Sem ressalvas. E essa primeira parte do álbum ainda mais para este fato