Não é de hoje que a paixão pela arte pulsa no coração dessa jovem cearense. Filha caçula de um dos maiores nomes da música brasileira, Vannick Belchior cresceu nos bastidores dos shows do pai, que já anunciava que ela seria cantora quando crescesse.
Após crescer e fazer tantas outras coisas, ela se reencontra com o seu eu do passado, ela lança seu primeiro EP “Das Coisas Que Aprendi nos Discos”. A data não é por acaso, neste mês ela completa um ano de carreira e nada melhor do que a proximidade do Dia dos Pais, para fazer essa dupla comemoração.
"Esse momento é um reencontro da Vannick do passado com a Vannick de hoje e o preparo de uma Vannick melhor no futuro. Eu falo isso internamente mesmo, espiritualmente, como evolução humana. Eu precisei descobrir quem era o Belchior. O Belchior artista eu descubro todos os dias e é plenamente difícil para mim. Eu comparo ele com outros artistas grandiosos, para eu ter a dimensão de quem é o meu pai, porque pra mim é uma esfera muito direta. Eu sempre vou ter a ideia do pai antes do artista. Eu descubro mais dele cantando as músicas e consequentemente eu me descubro como eu mesma, como filha, como mulher e como artista", disse a artista.
Esse trabalho traz uma fusão da filha com o pai que dá continuidade a arte e a criatividade do cantor e compositor. Com autenticidade que é uma de suas características e coragem, a cantora apostou em uma nova roupagem, mais contemporânea, para interpretar músicas clássicas do repertório de Belchior, que traduzem a sua essência.
Lançar esse projeto, com músicas do pai, marca um ciclo para Vannick, que passou por um processo de reparação afetiva e de encontro com sua ancestralidade. O público vai sentir a emoção e se identificar com a proposta verdadeira e autêntica da artista, que vai muito além da semelhança física com o Belchior.
"O Tarcisio Sardinha, um músico que tocava com meu pai, atribuiu que meu destino estava em ser cantora. Até então, a música me pairava ressoando nos meus sonhos e devaneios. O que me fez dar o primeiro passo foi o encontro com ele. Eu acredito que foi um encontro programado pelo O astral e eu digo até que o Sardinha foi enviado pelo meu pai. Foi o ele quem decidiu que eu cantaria as músicas do meu pai. Ele falou de forma tão avassaladora dentro de mim, que o meu coração entendeu que eu era cantora".
Obviamente que o nome "Das Coisas Que Aprendi Nos Discos", é uma frase retirada da clássica "Como Nossos Pais". Dentre tantos títulos possíveis, ela escolheu este por um motivo muito especial.
"A música 'Como Nossos Pais' é a música mais impactante do meu pai dentro da minha vida. Eu sinto que o meu pai escreveu a minha história, há anos atrás, e em um momento que eu nem era nascida. Ele tinha uma genialidade tão grande, que enxergava um lado humano muito diferente nas pessoas e que o possibilitou de escrever a história de sua própria filha. Eu sinto que estou perpetuando, que apesar de todas as coisas que eu fiz na vida, eu estou retornando para a música e me reencontrando com meu pai. O nome do disco não poderia ter outro nome, porque tudo o que eu aprendi com meu pai em vida e o com que eu aprendo com ele hoje, é muito definido pelo nome desse EP. Eu sei exatamente com o que eu me pareço com ele".
Depois de mergulhar nesse universo particular e familiar, ela selecionou a dedo “Como nossos pais”, “Sujeito de Sorte”, “Apenas Um Rapaz Latino Americano”, “Galos, Noites e Quintais”, “Paralelas” e “De Primeira Grandeza” que chega com direito a um clipe inédito gravado no Teatro José de Alencar, em Fortaleza.
"As músicas que eu escolhi são as que eu mais me identifico. Pra esse primeiro trabalho, foram só seis músicas, mas nos outros vou poder explorar esse império musical. Não ficou nenhuma insatisfação quanto as músicas que não entraram no trabalho. Eu me identifico plenamente com a essência do meu pai. A primeira música que eu cantei na vida foi 'Águas de Março'. Mesmo que meu pai não esteja aqui, eu sinto que sou uma versão bem peculiar dele. Quero manter os arranjos originais. Jamais gostaria desconfigurar todo o trabalho dele de musicalidade", afirma.
Claramente, representar uma obra tão genial quanto a de Belchior, é uma pressão e tanto. Ainda mais quando se trata de um trabalho de estreia. Sobre possíveis críticas que podem surgir sobre as versões, Vannick afirma que não se importa e apenas segue o que tem que ser feito.
"Eu me considero grata à vida, porque antes de começar a cantar, eu entrei em um momento de intropspecção muito profundo, onde tive que amadurecer muitas questões para entender se eu teria a coragem de assumir os meus dons para o mundo e me apropriar da minha identidade co-relacionada com meu pai. Superei muitas questões pessoais e tive que me reiventar, pra entender que fazer o que eu estou fazendo. Não existem críticas ou elogios que tirem o meu foco, porque eu sei o que eu tenho que fazer". Muitas pessoas vão gostar e apoiar e legitimamente outras não vão gostar. Na realidade, eu quero fazer o que a vida me pede. E quem é que é doido de não fazer?"