Oxigenando a cena do RAP nacional com suas influências e sonoridades abrasileiradas, Vaine apresenta seu álbum de estreia após uma série de lançamentos. O primeiro deles foi uma mixtape lançada em 2019, sucedida por um EP colaborativo com mais dois artistas e por fim o álbum “Colibri”, disponibilizado nas plataformas digitais no último dia 17 de novembro.
“A mixtape foi uma forma de reunir minhas músicas de forma mais simples e espontânea em um material, quando eu ainda não tinha estrutura para realizar um álbum. Eu ainda estava entendendo minha própria linguagem dentro do RAP. O EP, como era colaborativo, foi uma decisão mais enxuta para conciliar as agendas dos três artistas. Já o álbum foi o resultado desse processo todo de maturação numa obra melhor acabada e foi o formato que mais me agradou, por representar esse trabalho mais cuidadoso e bem acabado. Ele termina com a sensação que consegui deixar ali o melhor que tenho a oferecer como artista, pelo menos até o presente momento”, diz Vaine.
O novo trabalho do rapper conta com dez faixas inéditas, além da produção e direção musical de Xavbeatz e participações especiais de Monkey Jhayam, Uiara, Natania Borges, Darmi e Emiadê.
A sonoridade de “Colibri” é extremamente eclética, graças à mistura do RAP com elementos orgânicos. Outro diferencial do álbum é o conceito visual que o acompanha, já que nove das dez faixas são acompanhadas por animações produzidas pelo próprio Vaine, que também atua como artista visual. A única faixa que não ganhou uma animação, foi “Como Tudo Era”, escolhida para ser tema de um videoclipe com visual vintage, produzido pela Orsini Films.
“O ponto de partida para as escolhas visuais do clipe, foi representar uma estética vintage, que entendemos que conversa com o instrumental da faixa. Isso foi adotado desde o figurino à edição, trazendo ruídos e interferências que remetem ao VHS. Para a performance da banda, tivemos como referência o filme "A Voz Suprema do Blues", de George C. Wolfe. Na outra esfera do clipe, isto é, nas cenas internas, tentamos trazer um ar mais intimista e cotidiano, permeado por um pouco de terror, que traz uma quebra de expectativa importante, que dialoga bastante com as minhas escolhas na composição da letra”.
Desde meados da década de 90, o RAP é um gênero muito popular dentro do Brasil, mas nunca se teve uma cena com artistas que passeiam pelos subgêneros do estilo com tanta propriedade como agora. Vaine falou sobre como os rappers que participam desta efervescência devem se profissionalizar e apontou os erros e acertos da cena:
“Acho muito importante pra cada vez mais essa cena se profissionalizar, girar dinheiro e trazer protagonismo preto e periférico para o circuito cultural brasileiro. Acredito que ocupamos um espaço importante, principalmente para a juventude. O RAP sempre precisou se organizar melhor, criar de fato uma indústria no país e isso começa a acontecer. Como toda grande expansão, existem também os pontos de atenção e o ônus desse cenário inflado.
O RAP passou a ser entendido como uma forma de ascensão social, o que é natural e justo, mas esse caminho é bastante sofrido e ainda pouco acessível, então eu entendo que essa juventude precisa aprender a lidar com as frustrações e entender que é um caminho longo, que exige muito trabalho e maturidade. Sinto também que muitas vezes os artistas acabam se repetindo, soando genéricos, por abraçarem as mesmas temáticas de outros que trilham uma caminhada de sucesso. Todo artista é único e o que temos de melhor é nossa visão de mundo particular. A partir do momento que as narrativas se repetem demais, vejo como um empobrecimento geral da cena. Ainda assim, o saldo é bastante positivo e temos anualmente artistas com trabalhos incríveis nos representando muito bem”, enfatizou.
Para Vaine, o conceito do álbum, bastante pessoal, acabou atravessado por uma angústia coletiva trazida pela pandemia de Covid-19:
“Então esse sentimento de melancolia e incertezas que experimentamos neste período de ‘quase vida’ aparece constantemente, junto de uma forte ânsia por liberdade, por botar o corpo na rua e voltar a tudo o que me inspira no cotidiano”.