Entrevista: Ramonzin fala sobre novo clipe, preconceito, skate e muito mais
- Guilherme Moro
- 2 de set. de 2021
- 3 min de leitura
Na última terça (24), Ramonzin encerrou mais um ciclo de sua carreira com o lançamento do videoclipe da faixa "RL", disponibilizada no álbum "Arteiro", lançado em 2020. Ele contou com a participação e L7NNON, skatista que desde 2017 tem sua carreira musical.
Gravado na Zona Portuária do Rio de Janeiro, o clipe traz a participação dos skatistas do Movimento da Praça XV. Ramonzin também presta sua homenagem a Rayssa Leal, Kelvin Hoefler e Pedro Barros, atletas do skate brasileiro que foram medalhistas nas Olimpíadas de Tóquio. A modalidade é o esporte que o Brasil mais ganhou medalhas em uma única edição.
"Eu fico feliz de ver as coisas acontecendo. É um momento histórico para o skate. Acho isso importante pra muita gente e vai beneficiar vários atletas que vão se propor a deixar o skate brasileiro em evidência. Ao mesmo tempo, a gente tem que entender todos os processos que levaram o skate chegar no patamar que esta hoje. A galera do skate foi carente por muito tempo de patrocínios e de iniciativas privadas, tanto que a gente conseguiu estabelecer um mercado paralelo e independente. Pro mercado interno, isso (chegada do skate às Olimpíadas) não gera tanta diferença, mas pra muitas pessoas que vão se propor a disputar as Olimpíadas, isso vai fazer muita diferença".
A pandemia afetou toda e qualquer área, além de impor as mais diversas restrições para diversas atividades. Se gravar um clipe já é um trabalho árduo e cansativo, no meio de uma calamidade pública as adversidades podem ser bem maiores. "Gostaria que a produção fosse até maior, mas não foi possível por conta dos protocolos. O clipe anterior que eu fiz, nós fizemos tudo remoto. É mais difícil de se fazer. Não podemos deixar de trabalhar a arte, mas é muito difícil viabiliza-la. A estética que propomos foi 'menos é mais' ", comenta Ramonzin.
O Rap é um discurso rítmico com rimas e poesias, que surgiu no final do século XX entre as comunidades afro-descendentes norte americanas. Apesar de muito procurar, o gênero foi duramente criticado e sofreu com os mais diversos tipos de preconceito ao longo das últimas décadas. Com o passar dos anos, as pessoas finalmente começaram a olhar de uma maneira diferente para o rap, que tanto engrandece a cultura musical do Brasil e do mundo.
Nascido e criado no Morro do Julgamento, na zona norte do Rio de Janeiro, Ramonzin comentou sobre a a abertura que o rap ganhou nos últimos 25 anos:
"O cenário melhorou, sem dúvidas. O rap é o gênero mais ouvido no mundo, mas é importante separar as coisas. O preconceito existe, ele não saiu. O que acontece é que quando a gente consegue colocar um gênero musical lá em cima, existe uma fórmula para que isso seja expandido para mais pessoas. Tudo aquilo que não interessa muito, mercadologicamente falando, vai sofrer algum tipo de preconceito. O funk das favelas, o que não toca nas rádios, ele existe e sofre preconceito. Eu trabalho muito entre o underground e o mainstream, então eu consigo entender as duas entradas. Sei o que as pessoas querem ouvir e o que elas não querem", indagou.
Ramonzin é considerando um dos maiores talentos do cenário alternativo da atualidade. Sempre ligado à cena, Ramonzin envolveu-se com o rap através do skate. Em 1999, começou a participar das rodas de freestyle com seus amigos na Lapa e acompanhou ativamente várias fases importantes do hip-hop no Rio.
"Meu trabalho é muito plural. Eu trabalho com muitas vertentes musicais. Quando eu faço um MPB ou um samba, procuro fazer de forma genuína e muitas vezes as pessoas não estão interessadas em ouvir. Eu gostaria que todas as músicas tivessem entrada nas rádios e fossem ouvidas, mas ao mesmo tempo eu não posso perder a identidade do meu trabalho, que é muito importante pra mim. Eu não mudo minha forma de fazer arte".

"Arteiro", o segundo álbum da carreira da Ramonzin, foi lançado no ano passado e ainda está fazendo o baita barulho, dentro e fora da cena. O disco explora ritmos periféricos e sua pluralidade musical com elegância e a acidez contestatória essencialmente
presentes. Contando com 11 faixas, o trabalho traz levadas furiosas, beats e arranjos sofisticados, além de contar com participações de Malía, MV Bill, Djonga, BK’, L7NNON e Luedji Luna.
"Estou bem satisfeito com esse disco, desde a estética musical, até as participações. Agora eu começo a partir para outro campo. Estou gostando de fazer tudo de uma forma mais devagar e sincera".