Parece que foi ontem que os três Paralamas iam tentar tocar na capital. Mas a verdade é que já se passaram 42 anos desde que João Barone, Hebert Vianna e Bi Ribeiro se reuniram para criar uma das bandas mais emblemáticas da história da música brasileira.
Em mais de quatro décadas, muitas histórias se perderam e outras ficaram marcadas na memória de cada um dos Paralamas. Com o intuito de registrar grandes momentos do grupo através de sua própria perspectiva, João Barone lança o livro "1,2,3,4! Contando o tempo com Os Paralamas do Sucesso".
Mas é bom deixar claro que não se trata de uma biografia, nem dele próprio, muito menos d'Os Paralamas. É uma obra que conta passagens vividas por Barone ao lado de seus dois companheiros.
O livro é um lançamento da Máquina de Livros, tem prefácio do jornalista, cineasta e produtor José Emilio Rondeau e a orelha escrita pela jornalista Elisabete Pacheco.
Durante a leitura, João Barone parece conversar com o público, transformando a obra em um bate-papo extremamente divertido e viciante.
"Tentei fazer a narrativa fluir da maneira mais descontraída possível. Não era minha intenção fazer um livro com dados e com abordagem jornalística. Por isso insisto em falar que não é uma biografia. Sou eu contando história por trás dos tambores. É a minha visão. Usei uma linguagem bem explicativa e coloquial", afirma o baterista.
Uma das passagens mais marcantes que o livro aborda, foi quando Os Paralamas do Sucesso foram convidados a se apresentarem no primeiro Rock In Rio, em 1985. O evento foi um marco para a música mundial e reuniu artistas como Queen, Yes, Rod Stewart, AC/DC e muitos outros.
O trio realizou um show histórico e não se intimidou frente ao mar de pessoas que preenchiam a Cidade do Rock naquele ano. Além dos sucesso da época como "Vital e Sua Moto" e "Óculos", o grupo arriscou uma versão de "Inútil", do Ultraje a Rigor, que foi tema do movimento Diretas Já. Uma catarse.
"As pessoas não fazem ideia do que significou o primeiro Rock In Rio. Parecia que um disco voador tinha decido no mundo, não só no Brasil. As pessoas mal acreditavam que seria possível. Houve um esforço para que aquilo desse certo. Tivemos sorte de ser a última atração confirmada para o festival. Estávamos nos consagrando entre as bandas emergentes na segunda metade de 1984, fazendo muito sucesso com nosso segundo álbum (O Passo do Lui). Parecia inevitável que os Paralamas seriam convidados para o festival. Saímos do Rock In Rio como a banda revelação", relembra Barone.
Sem deixar de lado temas delicados de sua trajetória, o responsável pelo ritmo d'Os Paralamas se aprofundou com detalhes no acidente de ultraleve sofrido por Hebert Vianna e sua esposa, Lucy Needham-Vianna, que acabou falecendo.
A tragédia deixou o guitarrista paraplégico. A lenta recuperação foi acompanhada de perto por Barone, que em meio à pausa forçada d'Os Paralamas, gravou o disco "Bossa'n Beatles" com Rita Lee e excursionou com a artista como músico de apoio.
"Ao recordar este momento tão traumático, tentei levar a emoção intensa que vivenciamos neste período. O acidente do Hebert foi um trauma nacional. As pessoas se envolveram com aquilo porque ele estava diariamente nos jornais e todos torciam para sua recuperação. Nós tentávamos nos manter com uma fé cega de que ele ficaria bem e sobreviveria. O que poderia ser uma história triste, foi um renascimento d'Os Paralamas. Foi intenso e emocionante. O Hebert é uma fortaleza. O que aconteceu foi perto de um milagre", pontua.
Essas e outras histórias fazem parte deste registro importante feito por Barone nas 416 páginas de sua nova obra. Além de preservar a memória de sua própria história, o baterista deixa como legado momentos e passagens importantes da música brasileira.
A entrevista completa pode ser acompanhada no YouTube do Música Boa.