Em clima de comemoração e renovação, Fernanda Abreu lança o álbum "30 Anos de Baile", onde convidou DJs para remixarem seus principais sucessos até aqui. A cantora é uma das pioneiras da dance music e do pop no Brasil. O álbum de estreia de Fernanda, “SLA Radical Dance Disco Club”, lançado em 1990, foi um divisor de águas na música brasileira. Quando mostrou à EMI as primeiras demos do que viria a ser o disco, Fernanda ouviu do então diretor da gravadora, Jorge Davidson: “Adorei, que coisa diferente. Mas, você sabe, não tem mercado no Brasil pra essa coisa dançante”. A resposta de Fernanda foi assertiva: “Não tinha, vamos inaugurar! Acredita que vai dar certo”. O resto é história.
A lista de convidados é eclética e traduz o panorama da pista de dança hoje no Brasil, cobrindo estilos diversos, do funk ao trap, da house ao techno, do rap ao electro, representados por nomes da atual geração, como Vintage Culture, Gui Boratto, Bruno Be, Tropkillaz, Fancy Inc e DJs clássicos, que ajudaram a erguer as paredes dos bailes, como Corello DJ, Zé Pedro, Dennis DJ e Memê, este último encarregado de fazer a direção artística do álbum. Além do grande elenco de remixers, há também no disco as participações especialíssimas dos rappers Emicida e Projota.
"Eu tô super feliz. A minha parceria com o Memê é sempre muito prazerosa. Fluiu muito bem. A coisa mais surpreendente desse disco é que eu dei pra eles a opção de escolher as faixas e ninguém escolheu a mesma. Eu achei isso impressionante".
A Garota Sangue Bom sempre foi muito ativa em seus ideais, principalmente se tratando do feminismo e outras causas. Pensando nisso, em 2022 a cantora irá lançar "30 Anos de Baile por Elas" (nome provisório), álbum remixado só por mulheres DJs e produtoras musicais desse nosso Brasil.
"A música é um ambiente muito masculino, sempre foi. Produtores, arranjadores, músicos, engenheiros de som, agente de show, contratante, empresários, é muito homem e acho que um dos papéis da mulher nesse meio é trazer mais a mulherada pra esse meio". Eu acho que o que a gente está vendo hoje no pop brasileiro é a mulherada tomando conta. É Anitta, Ludmilla, Luisa Sonza, ISA, Jade Baraldo e uma quantidade grande de mulheres cantando e compondo. Realmente as mulheres estão ocupando o seu espaço. Hoje fico feliz de ser considerada a mãe de todas elas", comenta.
DJ Memê é o mestre da house music brasileira. Ele trabalhou com nomes notórios da música nacional, como Lulu Santos e Gabriel o Pensador e com artistas internacionais como Shakira, Gloria Estefan, David Morales, Frankie Knuckles e Dimitri from Paris. Ao todo, foram mais de 7 milhões de discos vendidos entre compilações e álbuns completos com sua produção, além de diversos prêmios individuais.
"Meados de outubro de 1989. Final de show na extinta Jazzmania, em Ipanema, onde dei a sorte de assistir a um pocket show histórico que encerrava de vez o ciclo artístico da cantora-bailarina-darling-carioca, conhecida como “Fernandinha da Blitz” e marcava a entrada em cena triunfal da “Fernandona do Baile”, ou, para todo o sempre, Fernanda Abreu. Depois de 30 anos e, para comemorar tanto amor entre Fernanda e os DJs, a ideia desse ano veio como uma cereja no bolo: - Memê, quero que os DJs sejam responsáveis pela minha música neste ano de comemoração. Quero fazer o melhor disco de remixes já produzido no Brasil. Me ajuda? E assim foi! Saímos para almoçar no Entrecôte do Shopping da Gávea e enquanto traçávamos um contra-filé com salada, juntamos uma lista de músicas que mereciam um carimbo novo e começamos ali mesmo a ligar para DJs/produtores que imaginávamos certos para cada missão. Fernanda ligou pessoalmente para cada um deles e o entusiasmo foi geral. Todo mundo topou de cara. A cada remix que chegava, tínhamos mais certeza de que havíamos escolhido o caminho certo. Fizemos, sem dúvida, o que ela queria: O melhor disco de remixes já produzido no Brasil! E eu posso dizer isso com segurança porque participei de todos até hoje". comenta o lendário DJ Memê
Pioneira, Fernanda destacou a cena pop brasileira e relembrou o quanto o funk era um gênero marginalizado no Brasil:
"Eu acho que esse pop atual tem uma pitada do funk carioca, que eu acho que foi uma grande conquista importante, porque o funk sempre foi um gênero muito maltratado, marginalizado e passou por altos e baixos nesses anos todos. Foi uma loucura. A gente viu de tudo: funk raiz, funk sensual, funk melody, putaria, proibidão, mas sempre marginalizado. Eu me lembro que no início dos anos 90 tinham os arrastões em Ipanema e a culpa era do funk, assalto com assassinato a culpa era do funk. O grande preconceito com o funk é o racismo estrutural brasileiro. É igual diz aquela música: ‘som de preto e favelado, mas quando toca ninguém fica parado’. Eu acho que o pop hoje está muito consistente".