Nome aos Bois é uma canção dos Titãs, que faz parte do álbum Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas, lançado em 1987, e considerado por Nando Reis como o álbum mais político e engajado do grupo.
A letra da música, de autoria de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer, Tony Bellotto e Nando Reis, que é quem a canta, é uma listagem de nomes de pessoas, em sua maioria, ligadas ao ultraconservadorismo e a ditaduras, sendo responsáveis por atos abomináveis. Em conjunto com a letra, motivada, principalmente, porque os compositores ainda estavam assolados pelo horror da ditadura militar brasileira, gerado pelo viés das figuras citadas, a cadência da canção cria uma atmosfera pavorosa, que combina com os crimes cometidos.
Além de conhecidas figuras políticas, como Garrastazu Médici, presidente do Brasil no período mais sanguinário da ditadura, Nixon, que renunciou da presidência dos Estados Unidos por conta do caso Watergrave, relacionado com a permanência na Guerra do Vietnã e o intervencionismo do mundo Ocidental, baseado em uma corrente imperialista, Pinochet, comandante da ditadura chilena, e Stalin, ditador da União Soviética, alguns nomes causam curiosidade e dúvida no público.
Confira quais são:
Lindomar Castilho e Doca Street
Embora apareçam em estrofes diferentes, a motivação pela inclusão de ambos os nome é a mesma. O cantor Lindomar Castilho, conhecido como o Rei do Bolero, assasinou sua segunda esposa, Eliane de Grammont, também cantora. O mesmo aconteceu com o empresário conhecido como Doca Street que matou sua companheira, a socialite Ângela Diniz. A tese de defesa de ambos os crimes foi de que os homicidas teriam “matado por amor” e agido em legítima defesa da honra, figura jurídica tornada inconstitucional somente em agosto de 2023. Ao cantar o nome dos assassinos, a banda demonstra a repulsa à cultura machista e feminicida cultivada no país, que permite que o status quo de violência baseada no gênero permaneça.
Ronaldo Bôscoli
Nando Reis já revelou que a inclusão de Bôscoli na música foi gratuita, injusta e irresponsável, já que para ele, o compositor, que foi casado com a cantora Elis Regina e é pai do produtor musical João Marcelo Bôscoli, nunca poderia ser comparado com as figuras políticas. Bôscoli fazia parte da população tradicionalista, que se incomodava com as bandas de rock dos anos 80, e hierarquizava a cultura, considerando o gênero como de baixa qualidade.
Por esse motivo, na época, o compositor escreveu um artigo opinando que as bandas de rock jamais deveriam tocar no templo da MPB, que era o considerado o Canecão, uma casa de espetáculos localizada em Botafogo, no Rio de Janeiro. Como forma de vingança, a banda, que tinha uma temporada de shows agendada no local citado, decidiu incluir Bôscoli na lista. Nando Reis contou que o trecho da canção que menciona o compositor é um incômodo. Por isso, e buscando demonstrar admiração, o cantor incluiu uma canção de autoria de Bôscoli no álbum “Não Sou Nenhum Roberto, Mas às Vezes Chego Perto”, de 2009.
Afanásio Jazadji e Gil Gomes
Ambos jornalistas apresentaram programas de rádio, e foram incluídos na música pelos programas cultivarem uma cultura policialesca, que utilizando o sensacionalismo, incentivavam a pena de morte e o uso de expressões como “bandido bom é bandido morto”. Durante os shows da turnê de despedida, de 2023, chamada “Encontro”, ao interpretar a canção, a banda substitui Afanásio pelo nome do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Jim Jones
Jim Jones foi o fundador da seita “Templo do Povo”, criada no estado de Indiana, nos Estados Unidos. Após relatos de dissidentes sobre um suposto estilo messiânico e ditatorial do pastor, ele decidiu estabelecer a comunidade na Guiana. Em 1978, Jones e outros líderes foram responsáveis por um misto de assassinato e suicídio coletivo, no qual mais de 918 pessoas, sendo que 275 eram crianças, em 12, bebês, beberam, sob as ordens do pastor, veneno misturado a um ponche de frutas.