A revolução silenciosa de Michele e Ariádna
- Guilherme Moro
- há 7 dias
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Olhar para o universo sertanejo com uma visão macro pode trazer uma série de percepções. Mercadológicas, musicais e estratégicas. A principal delas, talvez seja uma notável crise de identidade. É como se todas as receitas já tenham sido testadas, aprovadas e repetidas para manter um resquício de aproveitamento do que resta.
Veja os palcos, as capas, as regravações, as letras, as estratégias. É uma fábrica de repetições, que se sucedem a cada nova tendência ou meme passageiro da internet. No âmbito de mercado e principalmente financeiro, tem funcionado, é claro. Mas até quando? Quantos Luans, Jorges e Marílias o gênero pode construir? Afinal, se não há renovação de ídolos, como dar o próximo passo?
Alheio a todos esses questionamentos e problemáticas, surge um ponto de respiro. Sim, respiro no sentido de pausa, de clareza, de olhar para as origens. É como se o sertanejo pudesse fazer uma mea culpa de sua trajetória. Tudo isso é refletido nas vozes da dupla Michele & Ariádna, nova aposta do projeto Acústico de Primeira.

Mesmo com somente quatro faixas lançadas, é impossível ignorar o tamanho da representatividade da dupla. Elas chegam como quem não tem pressa, mas carrega urgência. Como quem canta para emocionar, não para preencher um algoritmo.
O proposto não é uma revolução barulhenta, mas um sutil deslocamento de eixo. Não é uma fórmula nova. É a coragem de cantar sem fórmulas, apenas com talento. A leveza de tratar sentimentos reais. Amor, dor, saudade. Ora, sim! Os mesmos temas de sempre. Mas como é diferente quando não se tenta empacotá-los para o consumo imediato.
Talvez o futuro do sertanejo não esteja na próxima superprodução, no feat de milhões ou no marketing bem armado. Talvez ele resida exatamente onde Michele & Ariádna decidiram plantar: no chão firme das raízes, onde só floresce o que é regado com afeto. E se for assim, a mudança já começou.